A primeira vez que recebi os direitos de autor, tinha que ter recibos verdes. Fui às Finanças em Sacavém, para preencher a papelada, tinha que dar uma profissão e a senhora tinha um lista das profissões pendurada com um cordel, sujo, diga-se,
e como eu não quis declarar poeta, foi um problema, disse-me que eu tinha que ir a Lisboa ao Ministério da Justiça, daí esta poesia.
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Se um dia for às Finanças da cidade de Sacavém
Leve consigo a esperança e a paciência também.
A esperança e ser recebido com um sorriso no rosto
A amabilidade de ser servido sem ter que pagar imposto.
A paciência para suportar a indiferença dessa gente
São Janeiro sem Luar e dia sem Sol Nascente.
Lá encontrará a arrogância, nem sempre as informações
E se ainda há tolerância não está nesses balcões.
Não sei quem as detinou a cumprir este seu fado.
Mas quem a isso as obrigou deveria de ser castigado.
Não sei se estão lá por favor ou se de livre vontade
Mas seja lá como for respeitem a dignidade.
Há tanta gente que ri quando podia chorar,
Vivem para aqui e para ali, sem trabalho encontrar
Trazem nos olhos o amor e a tolerância também
Têm no coração o calor que essa Repartição não tem
Lá no balcão, a menina, puxa o cordel com a lista,
Tem classe, é coisa fina e creiam... não sou trocista.
Na lista das profissões escolha a que lhe convier
Se é para escrever canções, não está aquela que quer.
O senhor está numa boa!... E como tenho preguiça
Terá que ir a Lisba ao Minitério da Justiça.
Desculpe!... eu não sabia que na vossa repartiçao,
O telefone nao existia e Lisboa... está mesmo à mão.
Sobe a lista, desce a lista
Escolha o seu oficio.
De rir não há quem resista
De ver o cordel artista
Condenado ao sulpício.
Faz-me lembrar os galegos
Dos meus tempos de escola,
A sopinha era o aconchego
E para enganar o patêgo...
Sobe a bola, desce a bola!
A. da fonseca