Esta noite sonhei que era actor.
Que eu fazia do teatro amador
Numa companhia de teatro rural,
Mas com grande \"cabedal\".
Havia os actores e os figurantes.
Havia o Zé...sim, sim, minha senhora,
Aqueles a quem chamam de Zé Povinho,
Garrafão debaixo do braço
Com uma bela pingarola, sim, o vinho.
Havia também aqueles de grandes bigodaças
Daquelas bigodaças à antiga,
Já não se lembra, minha amiga?
Portanto, eram bem do seu tempo.
O Zé, dormia ao relento.
Os bigodaças, em casas apalaçadas.
Tinha que ser assim
Senão a peça não tinha piada.
Não minha senhora! Não era a peça... dinheiro!...
Era a peça de teatro.
A senhora hoje, está com má compreensão,
Ou serei eu que estou em dia não?
Os das bigodaças, eram os abastados,
Bem redondinhos, bem alimentados.
Entre os Zé e os das bigodaças,
Havia a policia que mantinha a desordem.
Não minha senhora... não era a policia verdadeira.
Também tem razão, a verdadeira não existe!
Bom... eram os Zé, que faziam o papel.
Não, não e não! Não era uma fábrica de celulose
Mas alguns dos Zé, na verdade,tinham a tuberculose.
Nos policias, havia alguns bem barrigudos
Que até pareciam
Que estavam na policia há muitos anos.
Não minha senhora, não há engano,
Era uma peça de teatro
Para mostrar como é a vida.
Nela estão os palhaços e os faz-tudo.
Os palhaços fazem tudo para enervar o faz-tudo
E quantas vezes ele é obrigado
A fazer ouvidos de mudo.
Mas não, minha senhora, não, é a vida.
E a vida, não é um circo?
Olhe... a maior parte anda a dançar na corda bamba.
Outros fazem grande ginática par viver
E que nem dinheiro têm para morrer.
Já lhe disse, a vida é um circo.
Então a senhora não está a ver?
Os patrões desse circo, são os bigodaças.
Pagam mal, apenas uns tostões.
E os Zé, pobres Zé!...
Quando chega o fim de semana
Viram as algibeiras de pantanas
E nem há patavina que caia, é só vento!
Mas eu sei que hoje não há tostôes!
Minha senhora... não me obrigue a dizer palavrões.
Oiça.... acabou! Nada mais há para contar,
Até amanhã, vou-me deitar
Não quero estar consigo, a perder o meu tempo!
Era só uma peça de teatro, afinal
Que representava a vida ao natural.
A. da fonseca