KAMIKAZES URBANOS
A
Digressão paradoxa:
Embarque jucundo;
Volta, depressiva, estrada melancólica.
B
Evasão de uma existência vazia
Assoma quando um insidioso combustível
Enseja a tramontana
Onde reside um horizonte de mútiplas e distintas linhas.
C
Não,
Não falo tão-só da tapioca ralada...
Não,
Não falo tão-só da fumaça plebéia...
Não,
Não falo tão-só da volúpia injetada.
D
Em verdade, sobretudo, eu falo
Do líquido em cevada,
Do sósia escocês,
Da maldita manguaça!
E
Quando regressam da viagem,
Inteiramente entregues, de novo, á depressão se acham.
Por isso, quase concomitantemente,
Em um novo trem-bala da mental diáspora embarcam.
F
E quando ela não mais os sacia,
Já é assaz tarde:
Pois os embarca uma outra viagem sombria.
G
Só que esta apresenta somente a passagem de ida,
Porque a depressão,
Esta que se mostra como a ama do masoquismo,
Nunca mais hão de senti-la.
H
Seus corpos imotos e sem vida,
Acabados da existência,
Se comutam no soturno e tétrico troféu-resquício
Da sucessão das viagens destrutivas que se finda!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA