sento-me na rede, o jardim visto daqui é tão pequeno! brinco com os meus sapatos e balanço o corpo dali para aqui. o vento está leve como a pouca roupa que o meu corpo veste neste fim de tarde de Junho. ao longe ouve-se o latir dos cães e alguns passos que moram naquela casa. é a tua casa mas não a minha, há muito que não é a minha casa, ainda assim gosto de me pensar nela, viver ali como uma garrafa a boiar em alto-mar. não tarda muito e ficará escuro, o sol esconde já a cara por detrás da montanha mas ainda deixa a sua mão de luz a acenar-me, é sempre triste quando o vejo partir e ao mesmo tempo é mágico, fico com a impressão que ele se guarda nos meus olhos para lhe ser possível admirar a beleza da lua. permaneço aqui um bom tempo para poder cheirar a natureza pelas narinas da noite acabada de chegar. o campo cheira-me a pele macia. não gostas do campo e quando te disse que ficaríamos por aqui fechaste-te no quarto e nada mais disseste. percebi que não gostas do campo e mesmo asim insisti para que ficasses aqui comigo, desculpa.
a rua canta algumas cantigas de outros tempos guardadas na sua caixinha de segredos, a memória de outros tempos, quando amar ainda era sinónimo de liberdade, hoje prendemos o amor a um tronco e fazemos dele nosso escravo, chicoteamos, esmurramos até o seu corpo se redimir à nossa força ainda que esta seja um pequeno grão de areia.
penso no amor como um simples desapertar de botões e nunca entendi porque fazes dele a difícil escolha entre o que é meu e o que é teu, o amor está no que é de ambos, quando achamos o "nosso" descobrimos que amamos. mas sempre respeitei a tua opinião e não é agora que vou deixar de fazê-lo.
o jardim visto daqui é tão pequeno. fecho os olhos e deixo que sejam os ramos das árvores a balançar-me a rede, quando o dia chegar quero andar de mão dada contigo, levar-te a conhecer os sítios onde descobri a felicidade quando as minhas mãos ainda me cabiam nos bolsos, quando a minha cabeça encaixava perfeitamente na pequena janela do sótão, por onde tantas vezes descobri a vida sob o olhar atento da lua.
sofá da cozinha,
mar
. façam de conta que eu não estive cá .