Naquela fresca manhã, ainda mal despontavam os primeiros raios de sol através das copas do arvoredo, Padre Carlos lentamente caminhava, seguindo um trilho pedestre entre os troncos, cheirando o perfume suave das folhas frescas, sorrindo com os chilreios da passarada. Fora divina a mão que o guiara a este local, para cumprir o desígnio de fundar no Sul de Angola uma Missão. Divinas paragens, de beleza convidando à meditação. Pertinho, ficava uma linda cascata. Continuou, pisando o chão fofo, de folhas caídas. O som do pisar das suas sandálias mudou quando chegou ao chão empedrado, do rudimentar pavimento que rodeava o modesto altar. Era nessa precária edificação, assemelhando-se a uma simples mesa de madeira que se preparava para celebrar a Missa matinal. A Missão da Huíla tinha sido fundada, mas o seu fundador não tinha encontrado uma igreja já pronta a inaugurar. Assim, enquanto era erigido o local de culto, tinha convencido os padres a fazer no meio da mata este recinto, como uma capela provisória. Com a madeira dos troncos das árvores cortadas para abrir a pequena clareira, se fizeram os bancos corridos, paralelamente dispostos em filas, como em qualquer igreja. Nesta, não se fazia sentir a necessidade do abrigo da Natureza. Antes, as paredes e teto afastariam os fiéis do pulsar da vida, luxuriante à sua volta, exuberante e plena, motivando louvores ao Criador. Assim reflectindo, interrogava-se Padre Carlos se quando estivesse edificada e pronta a bela e majestosa igreja projectada a cerca de cem metros dali, no calmo silêncio da doce luz coada do seu interior, se viria a ouvir pelas janelas da abóbada o piar das rolas...
José Jorge Frade