Acrósticos : 

O Medo

 
Não é da noite que tenho medo
mesmo cega,
mesmo muda,
mesmo que a geada tolha e quebre
o calor com que espero
o sol regresse.
Nem tenho medo do vento
mesmo quando aparece
desabrido
imprevisto
assolando o meu peito – violento,
rude e mortal.
Não temo os punhos fechados
abatendo-se na minha cabeça
rasgando-me os lábios
quebrando os ossos.
Não é das cidades fechadas
que me escondo,
das árvores moribundas
das ruas cobertas
de gente submissa, imprópria,
nem dos rostos tapados
que queimam os olhos mais claros
os que olham mais longe
e sabem chorar.
Do que tenho medo
e me apavora,
é de mim
quando te perco na bruma
densa
das palavras desentregues,
e não te acho
quando dou por mim acordado
a caminho de lugares
onde não chegas.
Do que tenho medo
é dos braços caídos
que te deixam ir embora
quando te agarram e levam
e tu vais, sem que eu diga não,
sem brigar com o medo.
Do que tenho medo
é apenas, de
não ter medo,
de te perder.


Jorge

 
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JB
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Enviado por Tópico
Tália
Publicado: 16/07/2008 11:14  Atualizado: 16/07/2008 11:14
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Localidade: Lisboa
Mensagens: 2489
 Re: O Medo
Andas em falta para com o Luso

Temos saudades dos teus poemas e de ti, vê se apareces mais vezes

Quanto ao poema:


Afinal, tens medo de ti próprio

Liberta-te e levanta os braços

Está muito bonito

Beijos

Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 21/07/2008 20:27  Atualizado: 21/07/2008 20:27
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Localidade: Brasil
Mensagens: 4705
 Re: O Medo
Sempre, sempre, tua poesia parece ter tentáculos que imobilizam-me, e eu dou graças por esses momentos onde, prisioneira, leio a beleza.
Tenho medo que demores a voltar.



Beijos