Quando o riso silenciar meu pranto
e a tolerância dá lugar a paciência
e as religiões desistirem da indulgencia,
cantarei com a beleza do meu canto.
Nesse orbe onde a ganancia faz morada,
numa pátria covardemente perseguida,
e as pobres almas de peles tão sofridas,
vivem a sonhar com paz policrômica d'alvorada.
Quando a liberdade fizer da vida um gorjeio,
amarei o mundo como quem cultua,
a D'ádiva musa que flutua
no amor profundo em devaneio.
Quando a justiça fizer valer a pena,
e cada litígio seja justo com o réu,
tirarei para o mundo meu chapéu
e perdoarei quem hoje me condena.
Se abandonasse o homem, o tal capitalismo,
em vez de acabar com a terra amada,
e lograsse o canto d'uma cigarra enamorada
livres seriamos da crueldade do egoísmo.
Se o amor humano cantasse apaixonado
e a ignorância fosse transformada em conhecimento
e a dúvida trocada pelo dicernimento
eu choraria em fragor fremente emocinado!
Quando a hipocrisia vencida for pela sinceridade
ou as alegrias destruísse as amarguras,
seria eu a mais feliz das criaturas ,
com o coração aberto a caridade.
Se a inveja não surtisse mais efeito,
nem nos homens imperasse o tal conflito
meu coração de poeta não seria aflito,
perante o desarmônico globo contrafeito.
Quando a homossexualidade for vista natural
e as peles pigmentadas acolhida em semelhança
e os povos tratados com respeito e esperança,
nosso planeta seria um paraiso divinal.
Quando a política conhecer a moral ética
e a falsidade interrompida for pela justiça,
mudaria eu de rumo e lira poética,
como faz o urubu ao sentir cheiro de carniça.
Se a industria em vez de poluir despoluisse
e o mundo evoluísse com o progresso,
e o global aquecimento não mais destruisse
a humanidade planetal no decorrer do seu processo
quando o homem se desviar do que é materia
e se desvincular do mal absoluto
e acabasse com a mentira e com a miseria,
até o tédio e a morte se poria de luto.
Meu pais adeja na esperança do porvir,
na liberdade desse ambiente sepulcral ,
que ofusca a cintilancia de um tempo divinal,
onde abre em cada semblante um sorrir.
Se tivesse os ricos mais sentimentalidade
e a pobreza não fosse vitima do descaso
e os povos saíssem desse atraso
que se faz corromper em sua inidoneidade.
Se cada um fizesse a sua parte ,
em vez de pensar sempre no todo,
e o todo fosse apenas uma parte,
para que a parte tivesse valor do todo.
Quando a ganancia não caminhasse com as desgraças
e o individualismo não corrompesse o ser humano
e a esperança vencesse todo desengano,
harmonicamente viveriam todas as raças.
Quando o terrorismo se transformar na paz suprema,
e as religiões não fosse mais mercenárias,
nem os políticos pragas sanguinárias
louvaria ao cosmo em cada meu poema.
Se o ciclo da agua suprisse toda a humanidade
e o petróleo não fosse causa de guerra,
queria eu viver pra toda eternidade
como a cósmica energia que não erra.
Se a bolsas não vivessem em sobe e desce
e o orbe entrasse em estabilidade
me converteria aos santos numa prece
sem blasfemar minha ingenuidade.
Se tivesse o amor humano tanta veracidade
e fosse eterno como se cogita,
como Fausto que se vendeu por Margarita
o homem seria imortal e eu sua majestade.
Se o sentimento humano fosse mais recíproco,
e existisse uma história verdadeira e tão bonita,
como a vivida por garibalde e Anita,
o afeto entre os povos seria mais intríseco.
Quando o amor dos homens se tornar perfeito
e superar o de Marília e o de Dirceu,
até mesmo o de Julieta e o de Romeu,
minha utopia de poeta surtiria efeito.
Quando a miséria se tornar fartura
e acabar nos políticos o pecado
e quando meu crime for perdoado,
será do látego liberto cada triste criatura.
Esperançoso creio em monentos mais risonho
e poder ver o fim do sofrimento alheio,
e que minha realidade vire devaneio
e a tristeza dos povos seja apenas sonho.
Quando a corrupção dé lugar a legalidade
e a justiça se tornar mais presente,
meu coração de poeta deixará de ser doente,
e gozará do ardor contente da felicidade.
Se o pessimismo banido fosse da existencia
e o desengano permutado em esperança,
e a malicia adulta pela inocência de criança,
o mal da ciência era mal só pra ciência. ,
se a vida não fosse tão sofrida,
nem idealizada pela fantasia,
tampouco rodeada pela hipocrisia,
não viraria escaras minha ferida
se cada homem fosse mais correto,
nesse escarcéu de sentimento imundo,
que se faz errante nesse fim de mundo,
o sentimento humano era mais completo.
Se cada um fosse mais sentimental,
e as pessoas não fossem tão estranhas,
a mentalidade poética não seria um hospital,
nem a politica um canteiro de farçanhas.
Se a crueldade se transformasse em piedade
e o comodismo em estimulo para luta,
talvez assim melhor vivida fosse a mocidade
e mais combatida a politica dissoluta.
Ah, se a imprensa fosse mais imparcial
e os escritores menos viciados
e a burguesia não cheirasse a bacalhau
e o corrupto a morte fosse condenado.
Quando o caos sombrio for iluminado
e a lúgubre inveja for encanrcerada,
junto a falsidade, essa amargurada,
seremos felizes como um casal enamorado.
Quando for a paz dos homens alcançada
e a criminalidade tambem interrompida
e a intolerância pela justiça combatida
a inspiração de poeta será mais lisonjeada.
Sei que tô vivendo na ilusão d'uma triste era
e a terra esta destruída pela propria humanidade,
vivo a esperar que seja sonho a minha realidade
e que o homem abdique da sua condição de fera.