Os meus passos deslizam no areal da praia imensa
Alteio as asas do pensamento
Em direcção ao céu azul que me conquista a alma
Entranhas-te em mim como se ininterruptamente
No entontecer do bailar das ondas
Tivesses em mim permanecido eternamente
Como se me cravasses estacas
E me fosse impossível soltar-me
Inundas-me de luz e fecho os olhos
Embalada pela música das vagas
Fomos assim, somos assim
Torrentes de um mesmo mar
Espuma de um mesmo oceano
Vagas que perfazem uma só descomunal
Que se abraçam e se desvanecem uma na outra
Em grandiosidade desabrochando ritmos semelhantes
Que avançam e recuam em tristezas e alegrias
Em festins e recolhimentos
Lágrimas deslizam pelo rosto
Misturando-se com o sal do oceano agitado
A areia revolta-se perante um universo de comoções
Fervilhando em picos de agulhas contra o meu corpo
Como se naquele peculiar toque
Me quisesse estremecer o alento
E me obrigasse a sorrir à vida em meu redor
Sento-me em bancos húmidos
Onde espuma branca vem açoitar meus pés
Por momentos fico no aconchego de um leito
Transfigurado nos elementos da vida eterna
O fogo dos nossos espíritos e o sol cálido
A água que me acaricia
O vento agitado e os grãos de areia fina
Onde desenho alheada um coração
E a tua imagem que se cola a mim como selo de uma carta
Que tem imperiosamente de ser entregue em mão!