Ao se desempenhar um trabalho de leitura, é preciso ter em mente que as atividades de compreensão escolhidas são de fundamental valor na condução do leitor à produção de sentidos. Infelizmente, para alguns professores que atuam na área de ensino de Língua Portuguesa, a ação de ler não é vista como um processo dinâmico e interativo, chegando a se assemelhar mais a um ato passivo, desprovido de condições de suscitar significados, fazendo com que o leitor não seja capaz de agir como sujeito crítico de suas atuações.
Nesse aspecto passivo em que o leitor somente decodifica o símbolos escritos, o educando flutua na superficialidade dos textos, ignorarando toda a natureza política, cultural e social responsável pela atribuição de significados que transcendem a tudo o que está sendo manejado através dos símbolos. Dessa forma, o leitor é impossibilitado de compreender a realidade em seu entorno, o que o transforma em um sujeito passivo, sem capacidades de construir significados a partir do texto lido.
Para reforçar essa situação, a escola, responsável basilar pelo ensino da leitura no nosso país, em muitos casos estando necessitada de boas bibliotecas e de outros veículos de comunicação capazes de colaborar com o ensino do registro verbal, faz uso, quase que unicamente, do livro didático como ferramenta e material escrito imprescindível para o cumprimento das atividades de leitura na sala de aula.
Refletindo sobre a leitura, e referendando as condições do ato de ler, Geraldi (1997) diz que: "Na escola não se escrevem textos, produzem-se redações. E estas nada mais são do que a simulação do uso da língua escrita; na escola não se lêem textos, fazem-se exercícios de interpretação e análise de textos. E isso nada mais é do que simular leituras."
Dessa forma, com tal proposta de ensino e encaminhamento metodológico, dificulta-se o ensino-aprendizagem da língua, além de inibir a formação de leitores. O leitor/aluno deve ser visto como um sujeito ativo, porque cabe a ele não só a tarefa de descobrir “o significado” do texto, mas inferir sentidos a partir de sua interação com o mesmo.
A leitura literária constitui uma desafio maior, tanto para o aluno, quanto para o professor. A crença de que o texto é apenas um amontoado de palavras cujos sentidos devem ser extraídos para se chegar a mensagem, constitui um forte entrave para o desenvolvimento do leitor crítico. Sendo assim, o resultado final, recorrente desse tipo de leitura, é a "formação de um pseudo-leitor, passivo e disposto a aceitar a contradição e a incoerência." (Kleiman, 2001).
Com a atividade de leitura, principalmente a leitura literária, apreendemos os valores e ideais que permeiam a sociedade e como se dá a mobilidade das idéias e das pessoas. Segundo JOUVE (2002), a leitura deve ter o intuito primordial de recrear e divertir, sem, no entato, deixar de agir no público, influenciando, assim, as mentalidades, pré-formando comportamentos e motivando atitudes. Destarte, descarta-se o leitor passivo e avulta-se o leitor que constrói sentidos, galgando uma “experiência desestabilizante” em si e sobre seus valores. "O interessante do texto lido não vem mais então daquilo que reconhecemos de nós mesmos nele, mas daquilo que aprendemos de nós mesmos nele. [...] O que a leitura permite, portanto, é a descoberta de sua alteridade. O “outro” do texto, seja de uma personagem, sempre nos manda de volta, por refração, uma imagem de nós mesmos" (Jouve, 2002):
Para formar leitores autônomos é imprescindível que o educador se utilize de uma gama de “estratégias”, para subsidiar a leitura literária. Assim, presume-se que o educando adquira uma máxima amplitude em relação aos vários aspectos envolvidos, estabelecendo previsões e construindo idéias daquilo que lê. É fundamental fazer do ato de lê uma atividade prazerosa, não somente mera decodificação e adivinhação das idéias que boiam nas linhas do texto, menos ainda, usá-las como pretexto para se trabalhar outras questões que não seja a leitura em si.
Se um texto, de natureza vária, seja ele literário ou não, quando trabalhado, não proporcionar um salto de qualidade ao leitor para a sua visão de mundo, tanto no aspecto social, quanto no quotidiano do leitor, a leitura perde sua validade.
o mais importante não se conta, se constrói com o não dito, com o subentendido, a alusão”. (Piglia)[/color][/color]