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Fechei-me

 
Fechou-se em mim uma janela.
Dizem que Deus quando fecha uma porta abre uma janela, mas neste caso fechámos aqui portas e janelas, entaipámos o sentimento em barras de ferro e de madeira marteladas até à exaustão, demos sete voltas à chave de casa, corremos os estores e atestámos o frigorifico.


Ficámos assim na penumbra de uma assoalhada poeirenta, vendo rodopiar as partículas de pó no ar frio que entra por uma frincha esquecida, tentando ouvir os sons que de longe nos traz a vida. Enquanto apodrece a comida que julgámos apetecida e secam as plantas no parapeito da janela.
Fechámos janelas. Trancámos a porta. Resta retirar o autocolante que diz “publicidade não, obrigada!” da caixa do correio para voltar a certeza de ter de ler. De ter quem escreva. Mesmo no anonimato desinteressante de quem oferece o que não preciso.


Fechámos as janelas que davam para as grandes árvores frondosas e verdes de sombra calma e aliciante. Árvores que plantei um dia certa da colheita. Tão certa que colheria.


A sementeira danificada por outras vontades jaz a meus pés, pequenas sementes indefesas sem ar e sem água. Secas.
Fechámo-nos. Mas de nada adiantou à nossa dor e ao nosso desconforto. O mundo continua lá fora, imparável, imbatível, e quase ninguém sente o sofrimento que por aqui se vive. A desilusão sofrida. A falta de vontade.
Ou seremos nós que afastamos quem timidamente se aproxima para dizer “sinto a tua falta”?

 
Autor
Ana G
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