Nunca desejei montes de fortunas,
Ou mesmo dantescas noites luxuriosas,
Do choro animalesco de criança ainda lembro,
Da tristeza e do receio de jamais libertar-me...
Brincadeiras ingênuas ao enfrentamento do mundo quando jovem,
Beijos e conversas descompromissadas e amigos,
Aprisionado em doentios dias de cama da janela contemplava,
O denso ódio que nascia nestes dias perdidos.
Da profecia ingênua concretizada,
Aprisionado ainda pereço,
Nada vivi a não ser pranto e enterros.
Em vinte anos contados como castigo.
Do fino cobertor em sangue protejo,
O corpo esquelético do frio,
E mesmo no calor de verões enternecidos, insatisfeito,
Recolho meus ossos e deitado medito.
O azar parece ter me escolhido como companheiro,
E a felicidade tão distante parece ter receio,
Pois ao aproximar-se logo se vai ou transforma-se
Na face deformada de um novo pesadelo.
O suicídio é uma paquera tímida,
De encontros efêmeros e conversas vagas,
Quem sabe a Morte num piedoso e apaixonado beijo,
Não faça com que tudo então se dissipe em trevas,
O motivo para mais um dia é este anseio discreto,
Que ganha contornos atraentes e leva-me pelo braço,
Mas fraco e caído junto ao leito desfaço
Intenções duvidosas em trôpegos passos,
Por ora catalépticos desmaios apenas em traços
Cada vez mais nítidos de romance mórbido,
Num quadro um demônio brinca com uma bela jovem
E adormeço pensando em seus sorrisos macabros.