Não me peçam que desista
de ouvir o coração ... Não ... não!
Que encho os pulmões
e lanço no ar, como balões, este meu grito...
Grito ...
Não me peçam, que a minha dor recusa...
neste nevoeiro, neste confusão a ouvir a buza...
Sim, que estas nuvens são já de mim,
em cinza vestida no caixão, a veste
de que se veste
a minha Alma muda ...
Mas, por favor ....
Não, não peçam que me esqueça
de te amar, porque de te esquecer
me quedei até acabar por morrer
por dentro.
Não, não me peçam para a adiar
para outra Vida,
sonhos, ilusões, emoções, agitações ...
Que os embrulhe
num qualquer papel pardo,
de embrulhos, de sacos vazios
e fundos ...
Que desses, sem nada dentro,
me encontro cheia há tanto tempo ...
sacos de farinha, solta ao vento ...
Não, não me digam que sou Louca,
que sou tonta, que oiço o piar da cotovia,
muito antes do abrir da aurora, noite a fora ...
Que não oiço o restolhar da cigarra,
quando no campo o Sol se queda, é meio-dia...
Não, não insistam na loucura da razão,
que da lógica do coração vocês se calam,
falam apenas do que ouviram dizer,
que de saber,
de sentir, se fecham ao devir ...
e, se julgam maiores, por omitir ...
Serei gota suspensa em fio da navalha,
serei abismo invertido,
serei Rio que sobe
e desliza,
não para Sul, mas para Norte,
serei a Vida
acasalada com a própria Morte,
serei água
de que se alimenta o fogo,
serei a fruta
que nasce fora de tempo
e o vento
que cansado de soprar decide
que o melhor que tem a fazer é só cantar ...
num Blue Tragédia,
que não é Opera,
não é Fado,
nem sequer galopa em cavalo alado...
Ventos ... bridas dos tempos de eterna bruma
e, das nuvens de algodão doce, a sua espuma.
Sim ... serei gota que sobe, que se eleva...
Terra que cobre o Horizonte, fazendo a ponte...
Céu a alcatifar o teu chão ...
E no fim ... a mão pousada na tua mão!
Sim!!!!
E no ar,
a mergulhar a rir e a esbracejar ...
peixes de mil cores em movimento,
E pássaros a voar Mar adentro ...
na Teia fina de neblina e do pensamento!
Sim,
porque se me pedem que esqueça,
que não oiça o grito deste coração aflito,
vos digo:
Invertam o Planeta, tal vos indico e,
do que me dizem, farei então o mote e a regra...
Vos faço eu aqui, nestas palavras, a promessa!
Mas ... Invertam o Planeta!
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