Era uma rocha, batida, desmaiada,
quase rasa de boleada
(tão aperfeiçoada),
descoberta, encontrada no recuar da água,
na maré vasa … ali n’areia,
no quarto medrante.
Ali, a jusante!
Era um penedo, com cara de bicho,
a gotejar, a escorrer … a pingar,
era uma fraga, ou um antigo rosto
a chorar na dor?
A chorar de Amor?..
Ouvi o seu grito, o chamar aflito…
E sobre a areia, me ajoelhei.
Da areia molhada a arranquei.
Olhei-a de frente, de soslaio, de lado…
Tomei-a na mão, junto ao coração e,
juro que vi … que contra a minha mão,
no centro da pedra … batiam em pulsação,
de frenético cansaço, quase exaustão,
Veias urgentes em excitação …
Num gesto sereno afaguei a pedra,
que sem reserva, mudou de cor…
Não sei se foi Sol, se emoção,
mas sei que o rosto-pedra ruboresceu.
Aninhada na palma, secreta Alma,
de Vida se encheu … contra a
minha pele, com todo o sentido,
um olhar antigo, se aquietou…
Reconhecido …
(Pedra do Mar… amante, amigo…).
Era uma pedra, pujante de Vida …
Eu a sereia, a musa e a Diva…
Contra o meu corpo a aprisionei,
a cingi e, vos juro que ternamente senti …
Que o Mar mandara um sinal só para mim…
Era uma pedra e chorava!
Molhada…
Era uma rocha, nua na Alma
era duma fraga, pedra arredondada,
Tinha dois olhos …
que sem receios, sem pavores,
me olharam de frente,
numa teia de quentes, loucos amores …
Dois olhos fundos … de outros Mundos,
me lançaram faíscas, beijando os meus…
E os meus choraram … olhando os da rocha,
E dos meus soltaram-se mil gotas salgadas …
E as gotas tombaram no centro das gotas…
E, juntas, juntas ...
unidas... caminharam!
Caminham ainda ...
Era agora um rochedo rolado, amansado, sereno,
… aquele rochedo, me olhava sem medo,
num agrado, num meigo afago - Divino presente…
Sim, vos juro, senti - vos digo e não minto -,
que aquela pedra tinha Alma e coração de gente…
Era uma rocha, oprimida, perseguida ...
cansada, rolada, volvida, arrancada,
pelos efeitos das águas, de vagas, marés…
Vinda de dentro, do epicentro,
do ventre do Mar … tombar a meus pés.
***
Surpreendi o silêncio, na fala calada,
tombei sobre a areia, na areia molhada,
no enlevo d’Alma, ali … estiraçada …
Amei o rochedo e fui amada…
Era uma simples rocha com olhar de bicho.
Era uma Alma … teceu-se um feitiço!
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