Espadas em riste, o gongo inicia a batalha.
Eu invisto com todos os meus dotes e ataco fortemente, falho e vejo-me forçado a desviar dum punhal manhoso.
Numa dança que se perpetua vou fazendo novas investidas. Não há mostras sucesso.
Dou tudo de mim e não há meio de quebrar a defesa do outro. Não dá.
Num rebuscado ataque perco o equilíbrio e sinto um qualquer objecto que desconhecia a existência trespassar-me o ombro. O sangue, quente, foge-me braço abaixo.
Estou a empunhar uma espada pesada. Ferido, deixo esta cair. Sem alternativa desembainho uma adaga. Se até agora não consegui sequer fazê-lo suar, a derrota será quase certa.
Num floreado tempestuoso de laminas acabo golpeado novamente no braço e em ambas as pernas. Sem aguentar suster-me de pé caio sobre os meus cansados joelhos.
Estou esgotado. E este será o meu ultimo suspiro.
O outro dirige-se a mim, fala:
-Deste tudo de ti. Superaste todas as tuas condições. Assim, entrego a minha rendição, a minha morte.
E crava, na sua zona lombar, o mesmo punho que, momentos antes, tinha fendido o meu ombro.
Aos poucos o seu sangue mostra-se ao mundo. Escorre pelas costelas e sai, com notável subtileza, pela boca.
Vejo a morte pesar sobre ele. Vejo o partir deste ser.
Assisto ao tombar de um dos meus demónios interiores.