Recordo os tempos em que tocava o teu manto de pétalas frágeis
- então falávamos pelos poros e pelos dedos,
então tudo em nós era linguagem de amor;
Algo na ferrugem do tempo se passou
- talvez as nossas vozes oxidando,
transformando doçuras em timbres metálicos;
Não mais ouviste as cordas do meu violão
gemendo, a guitarra do meu sangue,
ignorada a lira, silenciada de tristeza...
Hoje, minha latejante e cheirosa nudez
passa pelos teus implacáveis olhos,
indiferentes à chama...
Distante dos teus ouvidos,
esgueiro-me por brechas de azedume,
procuro lançar por tortuosas vias
de outros pavilhões auriculares
esta voz que se deixou perder em sussurros...
Já não mais síncronos, aurículas e ventrículos,
antes apenas dissonantes,
depois agora já bloqueados,
oh! - os corações - dissociados...
José Jorge Frade