Fiz da mágoa das noites a exultação dos dias
Construí castelos inabaláveis em lamaçais de desgostos
A felicidade renascida em cunhos irascíveis
Edifiquei a placabilidade do sórdido encanzinar de opostos!
Fabriquei dádivas de luz de traições nublosas
Fechei a alma enquanto abria o coração
Arquitectei a dignidade do ignóbil aviltamento
Tracei amores em flúmen de desafeição
Planeei o decesso como alívio do desprezível
Engendrei a coragem na escuridão do medo
Inventei alegrias na mais profunda tristeza
Mantive a higidez no doloroso destempero
Inspirei afoiteza em barcos de incerteza
Na solidão alinhei o amplexo ecuménico
Na escuridão ateei centelhas de esperança
Pela garganta apertada consegui expelir o grito da revolta
No sufoco do peito respirei de alívio
Nos momentos frios acendi fogueiras de afectos, esquecendo danos
Erigi paliçadas bloqueando momices de veemências
Sobrevivi invertendo o ciclo de absurdos insanos!