OLD TRIP
N’amplidão da acrimônia,
Vai sobre a sáfara, que á planta dos pés cauteriza,
Uma alma lôbrega tecendo seus passos.
Numa andadura trôpega,
De balde aos ombros ou á cabeça,
Segue seu itinerário resignada e serena,
Apesar de seu semblante ostentar estafa,
Ao encontro do longínquo rio de auroras incertas, escassas.
A água, que ela em seu bojo carrega,
Embora barrenta, malsã, funesta,
É a única disponível
Para matar a sede que ao povo da vírago
Flagela.
Ah, eles sabem, eles sabem:
Não podem ter escrúpulos,
Pois o escrúpulo em tão ressequida seara
É luxo, crepúsculo sideral, coisa inútil!
Eles sabem que entre um perpétuo breu imediato
E uma supernova morosa,
A derradeira opção sempre assoma como a mais auspiciosa.
Portanto, esta mulher animosa que enverga sobre o inerme e tenaz corpo
A armadura da certeza de estar em busca de um valioso tesouro,
Quando o apanha,
O cansaço simula uma fuga,
E ela leda, altiva
O desenho de um sorriso na fronte de suas caquéticas crianças
Vislumbra.
Ah, mas a escrita deste poema não encerra a sua árdua saga:
Antes de conduzirem-lhe o sol até a última morada,
Uma longa miríade de amanhãs hão de ir ao encontro de sua pessoa denodada.
Amanhã e além dos iminentes amanhãs,
A alma de infinitos girassóis nas veias
Fa-lo-á a mesma viagem árida.
Amanhã, a mesma jornada!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA