DESLUMBRAMENTO
Maria José Limeira
Tão longe de mim, estás tão perto
que até posso tocar-te com os dedos.
Ao largo, no entanto, és meu incerto.
E tão perto assim és meus degredos.
Distante, mar bravio que não toco.
Quanto mais perto ficas mais te avultas.
Tanto mais brado mais além o foco.
Quando cicio, porém, tu não me escutas.
Estando longe, não sabes meu anseio.
Estando perto, contudo, mais descrença.
Tão longe-e-perto sem um termo-meio,
tua proximidade desavença.
Tua distância irrompe no infinito.
Se chegas perto, és só uma miragem,
ora silente e, em seguida, grito
de voz amordaçada em carceragem.