O ano era 1974, um estudante de medicina de nome Pedro, acabara de
ingressar na faculdade. Em seus estudos de anatomia, Pedro, ficara após as aulas a revisar a matéria do dia. O cadáver que lhe servia de estudo era de uma moça de estatura mediana, nem gorda nem magra e de feições bonitas.
As pernas da moça já se encontravam bem retalhadas pelas lâminas dos bisturis de seus quatro companheiros de mesa. O rapaz concentrava-se nas nomenclaturas, posicionamento dos músculos e tendões dos membros pélvicos, até que ouviu um som estranho que mais parecia passos, vindo em sua direção. Os ruídos silenciaram-se, quando o estudante voltou a concentrar-se em seus estudos, uma voz súbita em seus ouvidos lhe disse: “Pare, pare... Pare de cortar minhas pernas e me tire daqui agora!”
Nada foi tão rápido quanto às palavras, nada foi mais rápido quanto à saída do estudante do anatômico. No dia seguinte ainda muito assustado, comentou aos amigos o acorrido. Lógico que ninguém acreditou e um deles o Júlio zombou do amigo medroso. Os risos pararam somente quando Júlio, o amigo zombador, se mostrou diferente, com os olhos arregalados de modo por nenhum deles ainda visto, gaguejando entre dentes, aquilo que seus ouvidos haviam acabado de escutar: “Pare de rir, não quero que cortem mais as minhas pernas”.
Os amigos, inclusive o Pedro, interpretaram aquilo como uma forma de zombaria e riram todos, menos o Julio que permanecera rígido, atônico e afônico, depois de alguns segundos foi que perceberam o real estado em que se encontrava o amigo, seguraram-no pelos braços, colocaram-no sentado, ofereceram-lhe uma latinha de refrigerante.
Passados umas duas horas, depois das aulas de Bioquímica, Júlio chama Pedro para uma conversa e detalha o que realmente ouvira. Pedro indaga do amigo, como era a tonalidade da voz que ouvira. Após a descrição, Pedro fica mais assustado ainda, reconhecendo no relato, a voz e o pedido que ele havia ouvido no dia anterior. Visto isto, acharam melhor procurar o professor de anatomia e relataram o acontecido.
O professor, mestre antigo na Escola de Medicina daquela Universidade, depois de ouvir toda a história dos rapazes e certo que os mesmos estivessem sugestionados, coisa muito comum aos novatos, ordenou a um funcionário que trocasse o cadáver da mesa número cinco, onde estudavam os dois rapazes.
Tudo voltara à normalidade, as aulas seguiram. O semestre já havia terminado, começavam então as férias, logo um novo semestre se iniciaria e todos esqueceriam os fatos imaginou o professor. Na aula inaugural de anatomia dois, convidaram o catedrático da disciplina para ministrar a primeira aula do semestre. Sala cheia, todos de ouvidos e olhos bem atentos em tudo que o mestre teria a dizer.
Nos primeiros 15 minutos de aula, o silêncio tomava conta da sala foi quando todos sem exceção, ouviram três batidas secas e fortes, vindas de uma sala anexa àquela onde estavam os alunos. Alguns alunos curiosos juntaram-se ao mestre e foram até a sala onde ficavam os tanques em que se guardavam os cadáveres formalizados. Mas, nada pôde se notar de diferente, nenhum objeto fora do lugar, nada caído pelo chão, que pudesse explicar a origem dos ruídos.
Retornando para a sala de aulas, mais três batidas como quem esmurrasse uma porta foram ouvidas por todos que ali estavam, imediatamente por um ato reflexo se voltaram em direção ao som, perceberam que os ruídos estavam vindo de um dos compartimentos
dos tanques. Abrindo-se a porta agarrada à mesma, estava o cadáver
da moça. Imediatamente, Pedro e Júlio se olharam e mais uma vez, foram conversar com o mesmo professor que já haviam relatado os fatos anteriores.
O mestre que havia também escutado os ruídos e visto aquele cadáver agarrado à porta do compartimento, quando viu os rapazes se aproximando, tratou de dar início a conversa. Não será preciso dizer nada, amanhã mandarei retirar o corpo daquela moça e providenciarei o enterro no cemitério da cidade.