Poemas : 

Segunda Intenção

 
Chaga aberta,
úlcera indiferente
de bordos limpos, cicatriz incerta,
calo infinito, porque ausente.

Praga sólida e esperta,
cega a vontade de me ver doente
e eu tão alerta,
esta ferida que dói, mas não se sente.

Fecha tão devagar
que se esquece na tentativa
e rouba do tempo a acção...

Antes de cicatrizar,
parece estar viva
em segunda intenção.


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
Texto
Data
Leituras
2708
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
5 pontos
1
2
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/07/2008 21:28  Atualizado: 02/07/2008 21:28
 Re: Segunda Intenção
Já disse aqui que tinha ressalvas quanto aos sonetos mas me rendo também a esse teu poema. Vez ou outra a ferida que dói e não se sente faz fincar o nosso tempo de hoje num tempo passado. Parada nesse tempo imaginário, diante do teu soneto. Abraço.