Chaga aberta,
úlcera indiferente
de bordos limpos, cicatriz incerta,
calo infinito, porque ausente.
Praga sólida e esperta,
cega a vontade de me ver doente
e eu tão alerta,
esta ferida que dói, mas não se sente.
Fecha tão devagar
que se esquece na tentativa
e rouba do tempo a acção...
Antes de cicatrizar,
parece estar viva
em segunda intenção.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.