O SOL VELADO
Viajo até o quadraçal dos pensamentos
Para tentar compreender
Um sofisma camuflado em enigma:
É que os magnos regentes do sistema de Pandora
Dizem agora querer que os aguerridos curdos do novo tempo
Tenham um postigo na sua eternamente antiga Terra querida.
E ainda sim um postigo
Sem o girassol da Filosofia:
Pois eles não poderão entregar seu destino
Á mão da serena brisa da perpétua Primavera;
Em vez disso, ficarão sob a guarda
Das sábias cotovias,
Que foram mutiladas em seu canto outrora
Pelo dantesco brilho do riso de uma hiena gótica,
E após a tormenta,
Se transmudaram em harpias sanguinárias
A serviço da velhaca pomba soberana
Que diz segurar em suas atrozes garras
A magnânima Tocha inapagável
Da imorredoura aurora tão sonhada.
Por isso, já sobre o cume
Do quadraçal dos pensamentos,
Eu lhe pergunto:
Por que tão-somente resta a eles
O ultraje, o agravo, a injúria
De ter como vivenda
Um postigo na imensa Ermida
Dos mais adorados Paraísos da Esperança?
Por favor, quadraçal,
Acabe com o meu tormento:
Por que estes pobres curdos
Possuem menos direito á Ermida
Que as mutiladas cotovias
Uma vez que eles são a prole da mesma orgânica Manjedoura
E se alimentam do mesmo leite amoroso
Que brota da mesma telúrica Mama acolhedora?!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA