A GLÓRIA PANDÓRICA
Um bigode austríaco, estando munido do poder da palavra,
há muito tempo soerguera um povo
[Um povo jazido no arquete da derrota. E, ao fazê-lo, acabou por transmudá-lo no maior promotor
da refulgência da destruição, até aqui, na História.
Hoje pareço ouvir a mesma voz emanada daquele bigode,
como se fosse um eco fantasmagórico
que, rompendo as várias barreiras dimensionais do além-túmulo,
regressa ao nosso plano, conclamando
todas as novas chagas abertas
[Abertas pela dor causada por conta
da opressão do mundo, a se irmanarem a ele, no pulsar do sentir do ódio,
e assim aniquilar áquele que eles consideram o seu consensual tanto mais mais terrível verdugo: o verdugo aparentemente ametódico.
Não, não sei como dizê-lo, mas me engano.
O mundo: o mundo é masoquista.
Ele tão-só almeja abrir mais e mais feridas;
depois anestesiá-las, embevecendo-as com a sua mais pura perspectiva:
a partir daí, deleitá-las ao verem a beleza
[A beleza da poética da podridão do ser... da intemperança... do arrivismo... da opulência... Do enriquecer!
Então aquela visão as incorpora
a ponto de não saberem
se aquilo é real ou quimera apológica ao cosmo esquizofrênico burguês,
tão engrandecido pela TV.
Porém, residindo no reino das miasmas de lixo,
elas sabem ser o êxtase da riqueza um caminho inacessível. Por isso, afinal, resolvem ingressar no viral universo
e nele, deixar-se apoderar: tomar a forma do vírus-berro.
Portanto dominando o medo. Muito além disso, impondo-o até mesmo!
Desta maneira, alimentando o mundo e ele as alimentando
ao deixar, deixar degustar as inúmeras delícias textuais do seu monumental
Monumental corpo enlevantemente dantesco, pérfido. Bruno]
No entanto, a alegria de pobre dura pouco.
O mundo é voraz. O mundo quer muito mais!
O mundo se cansa do mesmo sabor. O mundo quer experimentar:
Experimentar novas ganâncias... ânsias... Amores
[Percorrer a estrada da vida em busca de novos horizontes... Provar novos e surpreendentes
SA--- BO--- RES!
Logo após deixando a dissolução destes pobres despojos
como o estigma essencial, fatal dos seus laços.
Assim, um dia chaga... outro dia vírus-berro.
Doravante, um corpo sem vida. A escorrer da boca o amargor
[Inexoravelmente o amargor do sangue de quem conscientemente se deixou ser traí-
do. De quem, tolhido pela ausência, se deixou ferrar.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA