Quero que chova perenemente nas montanhas e nos burgos
Que os rios transbordem e arrastem doenças, mortos e vetustade
Que os vulcões despejem lavas e cinzas
Que torrentes transponham florestas e estradas em celeridade
Quero disfarçar-me de árvore centenária
Caprichosa e sábia perscrutando sinais
Subir aos céus e adejar para lá do negrume!
Ser ave de garras afiadas e potentes asas colossais!
Quero que os tempos se atordoem, se baralhem
Presente, passado, futuro, loucura eterna
Que importa se é tudo vida, existência e devir
Que os gritos dos homens se ouçam como em cisterna
Que os gemidos dos moribundos entoem nas noites
E ensombrem as povoações na lua cheia
Que os Homens despertem dos sonhos enganadores
E transformem em bela a cidade feia!
Quero que o silêncio após a tormenta retorne
Num apaziguamento e aquietação sem igual
Depois do revolvimento dos elementos
Da terra finalmente será erradicado o sombrio mal !
Assim está a minha alma que desenfreadamente vibrante
Granjeia o resguardo de um terno manto de amor
Em gritos de revolta constante
Almejando pelo emudecimento e descanso, vencendo o pranto e a dor!