e ela julga que o amor não existe, eu gostava de lhe dar a mão agora e dar-lhe um beijo mas calo-me. sozinho esgano a vontade de a amar e ela fica ali a reclamar, às vezes chora entre os gritos e os movimentos do braço que batem no espaço, às vezes sorri com o silêncio a desapertar-lhe os botões da camisa, está calor. eu sento-me numa rocha e fico ali, perdido entre os pensamentos nela e a voz dela rompendo o espaço. o amor existe, cátia o amor existe. ela não ouve e continua, a água quieta molha-me os pés.
e a amizade que lhe tenho, essa que de repente se transformou em amor, sem me dar conta antecipa-se e abafa a minha vontade de a ter entre os meus braços.
pensamentos súbitos na morte, vontade de desaparecer e ela continua longe, a uns passos daqui agita o ódio por um rapaz qualquer que a fez sofrer. não sei o que deva fazer agora, despistar a vontade de morrer, conhecer-lhe unicamente a amizade? amo-a tanto. tanto. não consigo vivê-a só como amiga, não posso. arde-me no peito um amor em forma de coração, corre-me pelo sangue.
digo-lhe que quero ir embora e ela abate a sua fúria momentâneamente, vem ao meu encontro, estremeço. apetecia-me dizer-lhe calo-me e ela antecipa-se-me em mãos que se dão à pressa. ela não sabe o mal que isto me faz, sem querer deixo crescer-me o amor e fujo. ela corre atrás de mim mas eu não sei para onde vou, escondo-me à pressa entre os arbustos e desapareço-lhe da vista.
a linha do horizonte cava-me nos olhos a tristeza. a amizade não me chega mas sei que é o único sentimento que ela pode entregar-me e não é pouco. choro. de repente até a morte faz mais sentido que tudo isto, corro pela esttrada como um louco, já nada mais me importa. já nada mais me interessa. se eu ficasse ela não me entenderia, daqui a uns anos era eu a sofrer sozinho e calado e ela a reclamar de um rapaz qualquer e de um amor que não existe. por isso vou, empurro-me o corpo contra a frente de um camião. agora e antes que a morte me leve, grito. grito-te cátia. o teu nome e o amor que te tenho.
baseado numa frase retirada do diário do ruben:
"o amor que te tenho infelizmente não chega para me impedir de morrer"
era um rapaz bonito com o coração caído do peito rasgado, os olhos castanhos não contrastavam com a pele morena. quando sorria abriam-se-lhe na cara duas covinhas que logo se inundavam de lágrimas, nunca aprendeu a arte de não chorar. chorava devagar, o tom era sempre o certo e o mesmo, de vez enquando soluçava e eu ficava ali a vê-lo sem o abraçar, nunca gostou de abraços.
ruben tinha os cabelos de tons claros como a roupa, nunca nada na sua vida foi escuro. as suas palavras alegres e os seus risos entregues não deixavam que os sonhos virassem pesadelos.
o ruben morreu e eu chorei. o ruben chorou e eu vivi. é justo?
à memória do ruben com
lágrimas de saudade a inundar-me a face,
mar.
. façam de conta que eu não estive cá .