Conduz há horas. Ao lado,no lugar do morto,ela sente
nas pálpebras a poeira dos quilómetros percorridos.
Do rádio roufenho ouve-se Tom Waits mal sintonizado em Ali Farka Touré. Jazz mutante de letra lisérgica,Desert Blues e LSD.O suor ferve o silêncio em lume brando. O aumento de temperatura aumenta a dificuldade da sintaxe que estala na pele. No retrovisor,um símbolo de fé pendurada.No banco de trás diários e mapas e polaroids e garrafas de Jack bebidas até metade, Bukowski ,Kerouac e uivos dos demais Dharma Bums.
Um revólver porventura carregado:Magnum 44.
Conduz há dias. Pose cool quase Tarantino.
Meio Hunter S. Thompson meio serial-killer.
Ao lado,no lugar do morto,ela tenta manter-se acordada."Onde estamos? Paris? Texas?".
Ele já dorme."O lugar pouco importa."
A paisagem do deserto é estéril face a quem a morre e há também a sede.
O carro pára.Saem dois espectros solares e um revólver porventura carregado.Ele acaba de beber a metade que faltava da garrafa de Jack:
acende um Lucky.
Onde estamos?-Pergunta dele.
Pouco importa.-Resposta dela.
No alto o silêncio voa em círculos.
(O final não será o cliché gore digno de um spaghetti western gótico.)