ESQUIZODÉLICOS DA ORDEM
Diariamente tomamos a pílula que nos entorpece a mente
Para viajarmos ao vácuo da nossa consciência
E ficarmos lá bem quietos:
De preferência,
Como se estivéssemos a nos deixar conduzir
Pelo intangível fio do fluxo dinâmico,
Contínuo
E impositivo
Dos nossos empedernidos dias pós-modernos.
Daltônicos, contemplamos a nós mesmos
Como um veio mortífero,
Que merece do mundo ser varrido.
No entanto, a verdadeira cor do câncer
Mora na insuspeitável colina da magnanimidade.
Nós, os filhos do lume opaco,
A vemos como o supremo símbolo, o mor estandarte
Do que é ser a cromática da Verdade.
Ou então não a vemos:
Pensamo-la o mais dardejante e airoso cristal da insanidade.
Contudo, ela age taciturna:
Sim, este é o maior dos perigos.
Pois, quando se dá a emersão dos sintomas,
É sinal que já somos presa
Da sepulcral sentença,
Até aí inconcebível.
Finalmente, anestesiados, não sentimos
Os vampiros e os lobisomens da tragédia
Sorverem-nos o sangue, tampouco devorarem-nos
A carne.
Achamos que nós mesmos,
Pelos nossos infortúnios,
Somos os verdadeiros responsáveis. Enquanto eles, os carrascos
Em pele de cordeiro,
Se transformam em legítimos heróis da farsa que é o vil-metálico Estado!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA