"Devaneios por coisa nenhuma..."
Hoje acordei com vontade de conhecer o lado oculto de todas as coisas...
Permitir em mim um pedaço de sabedoria suprema e extinguir todos os pontos de interrogações que por vezes me fecundam a cabeça...
Desejos impossíveis..gosto disso!Atraem-me..como o mel atrai as abelhas e as estrelas atraem os poetas.
Do sol que nasce todos os dias, o que conheço eu?
Sei que é um astro-rei...que consegue dar calor e luz sem ser preciso riscar um único fósforo e mesmo assim ele aquece..aquece o corpo ...aquece o corpo..sim,porque as almas precisam de um pouco mais para se converterem em chamas.
Gosto da sua cor...julgo que será amarela mas não o juro. Fico cega quando o olho de frente, mas lembro-me de pintá-lo nesse tom nos desenhos de infância. E quem sou eu para duvidar da verdade imaginada por uma criança agora que já sou mulher?
E do mar , que segredos sei eu?
Sei que é frio quando nos engole as pernas a espumar de raiva..mas também já o senti tépido em alguns encontros mais a sul...
Tem cheiro..julgo que tem,porque a minha pele guarda-lhe sempre um aroma em todas as despedidas. Mas será que sabe cantar?Será que aprecia os rouxinóis e lhe imita os trinados?Não sei se o mar conhece uma só nota musical mas tem melodia nos gestos..disso não duvido nem um pouco e confesso que até sinto prazer ao ouvi-lo desafinar contra as rochas.
Por vezes pergunto quem será que o pintou?E o que teria passado pela sua cabeça para misturar com tanta primazia gotas de verde e de azul tão abraçadas que dificilmente alguém as consegue distinguir quando deitadas naquele imenso espelho de água...
Às vezes tenho dúvidas da existência até daquilo que consigo tocar...de tudo o que consigo apertar na minha mão. Confio mais na presença amanhã do céu de todos os dias e no adormecer que tenho todas as noites e eu não posso apertar o céu nas minhas mãos...mas sei que está lá quando lhe cheiro a chuva nas nuvens e lhe vejo o rosto reflectido na palidez da lua.
E que pedaço de terra fica sempre no seu lugar?Que grão de areia encontro que não saia disparado dos meus dedos ao sentir o meu sopro junto a si?Talvez tenha uma respiração demasiado pesada para os mortais e fosse melhor soprar os meus segredos nos ouvidos dos Deuses que a mitologia inventou cansada da normalidade que descobriu existir em todos os Homens...
Mas hoje não..hoje acordei com vontade de saber o porquê de todas as coisas...o tal suprimir de todas as perguntas..o engolir de todas as insónias simplesmente por pensar que conheci Deus ao primeiro olhar.
Daniela Pereira
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