Olho a rua, pessoas às voltas como cegos à toa, caminhando de um lado para o outro, passa um, vem outro, onde andarás tu? Imagino o teu rosto entre tantos outros, vindo ao longe com o teu ar desengonçado, desajeitado, com aquele modo incomparável de andar... imagino o teu rosto e o teu corpo franzino a atravessar a passadeira que vejo ao longe da minha janela, se a atravessares fá-lo com cuidado amor já vi tanta gente ser atropelada ali.
E escuto aquela melodia que eu escrevi contigo ao meu lado numa noite de luar, enquanto o Douro matreiro nos via e ao ouvir-me cantar se ria mas ia ondulando-se ao sabor da melodia da minha guitarra... e escuto...
" Olha amor tanto a gente conta um ao outro,
há-de haver muito para contar ainda à solta,
nas conversas casuais sempre encontro o dom de amor,
e vejo-te quando não estás nas palavras que digo...
Sabes amor!? Quantas vezes inventei ter-te ao meu lado,
e agitei ondas de ausências e passados,
quebrei risos ao meio, deitei fora a tristeza e imaginei-te."
Tu ouvias em silêncio, calado, quieto, com aquele ar envergonhado que me levou até ti, nesse dia de verdades desvendadas ninguém imaginava a tua partida no dia seguinte...
Mas hoje imagino-te ainda a vir entre os rostos que passam pela rua que vejo da minha janela, pego na guitarra e toco aquela melodia... sempre... sempre que te imagino e esse sempre é tanto nos meus tão poucos dias.
. façam de conta que eu não estive cá .