não sei de onde
nem quando
ou em que era ou idade, se na do Bronze
ou se em puberdades d’antanho,
nasceu em mim a fome de ser quem sou de verdade:
um mar
um oceano de facto
que não abarco
que não sustenho
que me esgotam do choro ao riso,
por onde navegam sem custo batéis (in)constantes de papel e de palavras,
sem rimas e sem nexo,
ofuscados d’anímicas por um sol excessivo.
cega, indago fórmulas secretas em busca da raiz perdida, matematizo números, dos inteiros aos fraccionários, dos reais aos imaginários, muno-me da vassoura de bruxa e, sem nenhum esforço corro com os fantasmas todos, um a um, da sala escura à vassourada…
desço e subo a escada, (dizem que conduz ao paraíso)
deslizo pelos supranumerários…
(estes, dos muitos gabinetes, sem reciclagem possível. incrível, como a traça não destrói a permanente bagunçada, que bem precisa!!! ).
numa loucura concisa proponho tempos novos ao tempo.
um tempo em que, maestrina, de batuta descoordenada, assumo meu e dirijo num ritmo alucinado de um cansado metrónomo.
na vanguarda de mim
viro cento e oitenta graus a cabeça
(que a tenho suspensa por um único osso, quase, quase despegada, já meio degolada…)
olho os meus bolsos de trás, aqueles onde guardei uma centelha de esperança. tem a cor robusta das moçoilas da aldeia, das papoilas erguidas nas searas da vida, com que incendeio o caos que sempre m’habita, de forma permanente (direi que infinita), este, que em cada poema se solta dos terminais dos dedos e transita em julgado, sem método, sem regra outra, e s’eleva em vagidos de sons, banda em dia de festa, no centro de um coreto, ali, ao lado do lago, onde vislumbro o canto incessante de um cisne, se me busco pecadora confessa, na desventura e na desdita de, num registo telúrico, de movimento impreciso, ousar rebuscar a forma harmónica na ogiva inacabada de uma estrada interdita.
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