Rogério. Obrigada pelo elogio. O texto é meio inquietante e desafiador (ou desafiante?). De qualquer forma mando para este lindo espaço um outro texto sobre o mesmo assunto, ainda mais inquietante, onde o autor carregou nas tintas. Um abraço & Saludos. Maria José Limeira.
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Sobrescritos
Cada geração com seu estilo
(Sérgio Rodrigues)
Crítica construtiva, tudo bem, mas eu gosto mesmo é de elogio, disse o jovem escritor do momento.
A platéia riu.
A boutade é boa, retrucou da poltrona ao lado o escritor de meia-idade, seu momento perdido em algum ponto remoto dos anos 80, mas eu sempre achei que elogio é que nem doce. Uma delícia, e te enche de energia. Mas não faz crescer. Críticas têm proteína, elogios têm açúcar. O escritor jovem que se esbalda nos primeiros elogios, se lambuza neles, principalmente acredita neles, está se recusando a crescer.
O jovem escritor do momento ficou lívido. As juntas de seus dedos descoloriram em torno do microfone.
Quem se recusou a crescer foi você, cara.
Como disse?
Quem se recusou a crescer foi você, você é que se recusou a ir além daquela lengalenga sub-mautneriana de marginais heróis e nonsense que eu li quando tinha quinze anos, como era mesmo o nome, Minhocas do asfalto? Não, agora lembrei: A cidade e os cupins. Li com quinze, achei razoável, com dezesseis já achava um lixo. Foi você que não cresceu, você que fracassou. Tudo bem, pode ser que eu não dê em nada também, é altamente provável, aliás. Mas tenha pelo menos a decência de esperar isso acontecer antes de me atirar na cara o seu fracasso.
Seguiu-se um silêncio de cristal. O auditório estalava de tensão. Ninguém respirava. Até que o escritor de meia-idade redargüiu:
Viadinho!
E se atracaram. Os dois tiveram chance de encaixar uns tantos cruzados, e o escritor mais velho se distinguiu pelos potentes cotovelaços, enquanto o mais moço manejava com perícia um estilete, tingindo o palco de sangue, antes que entrassem para separá-los. Caiu o pano.
A platéia explodiu num aplauso de puro êxtase.
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