REBANHO
Ali, vão a reluzir pecuaristas ditosos,
Algozes da burilagem,
Deixam a marca dolorosa de sua propriedade
Nos gados que criam, compram, vendem, tocam
Com despreocupada atrocidade.
Não, não! Esse mar bovino, na verdade,
São pessoas que jazem presas
Em currais, onde morrem, desesperadas,
As numerosas nuanças da razão,
Que jamais pôde sentir em sua fluida face
O tépido lume da liberdade:
Face esta ancorada na lírica flauta de ondas
Turbulentas ás quais cimentam e tapeteiam
O âmago de tão expiado coração.
No entanto, moldada, desde muito, á maneira da tirania,
A pobre gente em sua chagásica compleição
Bebe a água do masoquismo. Então se faz masoquista!
Sim, tão acostumadas, elas alacremente bradam:
--- Pois não, meu amo! Sirva-se a seu bel-prazer,
Pois somos seus fiéis bois-escravos:
Seja você Nero ou Alexandre Magno.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA