Como pode a existência ser uma farsa?
Como pude prolongar situações sem nexo?
Como pude deixar o tempo suceder e esquecer-me de respirar?
Pertinência do geneticamente adquirido!
Respira-se!
Então porque não respiro?
Porquanto andei por caminhos de ilusão?
Embuste em embrulhos de invólucros perfeitos
Intrujice de corpos e enredos
Cofre de surpresas, perturbações e medos
Maquinações diabólicas de fogo perverso
Estratagemas edificados em obscuros degredos
Mentiras e falsidades sob céus estrelados de vaidades!
Bocas rasgadas em demências
Em cenários suspensos, numa cegueira de imbecilidades!
Assombrados na escuridão das mentes feitas de aparências
Nos adulterinos pilares da representação de um acto!
Sustentáculos de areia que se desfazem num, leve toque
Soterrando-nos numa encenação qual casulo verdadeiramente lato!
Ignorava que estava em cena!
Esqueci-me das deixas mais importantes.
Era a altura de retirar e eu fiquei ali,
Eternamente estática, hirta ouvindo o silêncio!
Num palco deserto, as luzes apagadas
Esperava que me dirigisses um gesto, uma palavra
Mas afinal a arte trágica acabara no segundo acto!
E o que eu pensara ser um começo
Era o desfecho duma evidente peça de teatro!
Menção honrosa no concurso de poesia "Hora absurda" 2008