Muralhas foram erguidas,
Um forte construído pela dor, amargura e uma enorme ferocidade,
Um vento gélido percorria as ruas nuas de tal lugar.
O rei não se interessava por mais terras,
Somente queria preservar as suas e mantê-las em segurança.
Um dia o rei solitário disse aos seus deuses,
A primeira que aparecer as minhas portas concederei-lhe a oportunidade
De tentar passar as muralhas.
Passado alguns dias uma névoa formou-se perante a entrada do forte.
Curioso por tal facto o rei enviou um mensageiro para saber mais.
Coisas maravilhosas ele lhe contou,
Ouviu falar de uns olhos terrenos lindos,
De um sorriso esperançoso,
De uma donzela admirável.
Desde as primeiras palavras que lhe foram ditas
Que um desejo ardente de ver os olhos de tal donzela
Surgiu dentro do seu coração,
Um desejo difícil de controlar,
pois via naqueles olhos a Luz perdida.
O rei deslocou-se até à entrada e ficou a ver ao longe,
A ganhar coragem para entrar em contacto com ela,
Sentia-se desprotegido fora do seu território,
Nem que fosse um metro do lado de fora da muralha.
Ganhou coragem e saiu para ir ter com a Luz.
Ao vê-la assim tão perto,
Um aperto no coração atingiu-o,
E num abraço desejoso o mundo de ambos desabou,
Nada existia à volta deles,
Séculos de saudade evaporaram-se.
Conversaram, passearam, riram,
Mas nunca o rei se afastou nem a deixou entrar nas muralhas.
O medo ainda pairava no ar.
Até que um dia ele a convidou,
Ela hesitante foi entrando,
Muito lentamente e com cautela para que nada fosse quebrado.
A muralha tinha sido vencida,
O forte penetrado,
Mas não fazia mal,
A felicidade do rei era sem palavras.
Viveram dias difíceis juntamente,
Dado que naquela época o rei sempre indeciso não conseguia
Suportar todas as adversidades,
E a loucura juntamente com a tristeza despoletavam
Momentos quase destrutivos.
A Luz um dia começou a mingar,
Precisava de conhecer mais e mais,
De conhecer o mundo à sua volta,
Não somente o forte.
Um dia ela saiu e ficou á porta,
O rei incrédulo ficou a vê-la.
Então ela disse:
- Vens ou ficas?
As muralhas estremeceram,
O coração apertou-se no peito,
A tristeza, a amargura,
A raiva voltaram num ápice.
Correu desvairado para dentro,
destruindo tudo à sua volta.
A Luz começou a caminhar devagar,
A afastar-se das muralhas.
O rei ao vê-la já ao longe murmurou:
- Já irei ter contigo minha Luz. Antes terei que destruir este forte
Lutou contra ele,
Lutou contra os seres que ele criou para ajudar a levantar as muralha,
Seres esses que agora se voltavam contra o seu criador.
Lutou e continuou a desbravar.
- Estou indo ter contigo meu Amor.
Disse o rei a por-se ao caminho,
Cambaleando e afastando-se das ruínas,
Da batalha supostamente vencida.