Percorro solitariamente os mesmos caminhos, os mesmos passeios
Enxergo as pessoas, as crianças, a ponte ao longe sobre o rio Tejo
Nunca me detenho na caminhada
Os meus pés dançam o ritual da inquietação em que o meu pensamento se inunda
E relanço o olhar para o outro lado da margem, e para os navios que se deslocam
E as embarcações lado a lado na marina, com nomes que só aos donos farão sentido
Observo os corpos morenos de quem aproveita o sol
E as brincadeiras, e os jogos de bola
Miro os catraios na sua agitação constante, de chapéus coloridos nas cabeças
E eis que gritam, que afloram em polvorosa
Riem, entoam o hino da inocência
E a minha mente que nunca se detém.
Trabalha, incessantemente labuta!
Incansável, quero afastar ideias e fantasias intempestivas
Acelero o passo e transponho a enfiada de embarcações
Sob os meus pés na água, cardumes de peixes bailam entre rochas
Começo a correr contornando o paredão de protecção da marina
Agora já não penso, já nada me angustia
Concentro-me apenas na respiração e na correria.
Sinto a energia invadir o meu corpo
Sorrio, porque a inquietação deu lugar aos poucos à serenidade
Imperturbável e segura ultrapasso o jardim florido
O odor da relva invade-me os sentidos
O verde de esperança permanece incontestavelmente em mim!