Sonho sem rosto
Sonho contigo e a delirar suspiro,
Pois me vejo a beijar teus brancos seios,
Nos sonhos lindos , no mais doces enleios,
Teu corpo beijo , e a suspirar deliro.
Pois todo ele é arma onde me firo
Com duros golpes, letais, e em agonia
Transporto o sonho as dores do meu dia,
Onde mergulho sem achar retiro.
Se tu existes, onde será que existes?
Pois em meus sonhos desde adolescente,
Volta e meia ressurges, e estás presente
Nos meus presentes sonhos sempre tristes.
Em alongar-me mais os dias insistes
Com seus voluptuosos anseios inatingíveis,
Pois ânsias são de coisas intangíveis
Desde a vinda primeira... e ao te partistes.
Rosto sequer tu tens, jamais o vejo,
Ou mesmo o vi em todos estes anos,
Teu corpo sim , é lindo, e tão profanos
Desejos surgem ali do meu desejo.
jamais te possui......... a ti só beijo,
E afago e cheiro teus loiros cabelos
Quando sedosos e lindos posso vê-los,
E sorrido os beijo...beijo.. beijo e beijo.
teu corpo é escultural, este eu conheço
e em minúcias, seus detalhes eu exploro,
E prazeroso rio, e alegre choro.......
Num ritual sem fim e sem começo
Meu sofrer quando acordo, este é o preço,
Pois apesar dos prazeres que invocas,
Nem poluções noturnas, em mim provocas,
Deve ser meu castigo......... e o padeço.
Esta é a máxima incógnita destes sonhos
Que a mais de quatro décadas me perseguem,
Pois me tirando o sossego até conseguem
Legarem-me dias maus, dias tristonhos.
10
Chego então a pensar p’rá meu desgosto,
Em conclusões loucas, mirabolantes,
Que me fazem crer por o ápice de um instante
Que a resposta é a ausência do teu rosto.
Como será tua tez?.. pálida ?... corada?
.............Será sua pele lisa ou oleosa?
.........Será rosada como a rósea rosa?
ou nívea como a lua, e aveludada???
Teus lábios não me tocam, nunca os vejo,
Não tenho pistas para decifrá-los
Resta-me pois somente imaginá-los
Como imagino coisas que não vejo
Penso-os sensuais , rubros , carnudos,
Ou em boca pequena, os mesmos finos,
Com o riso de inocentes pequeninos,
Ou em grande boca lúbrica, polpudos.
Às vezes os vejo como simples estudos
De desenho, em rascunhos, só riscados
Em vãos contornos, ou todo rabiscados,
Em silencio e pétreos quais dos mudos.
E os teus olhos ?.. como se afiguram?
Serão verdes, castanhos ou cerúleos?
Serão doces, ou laceram como acúleos?
Ou serão só de amor, olhos que curam???
Ou crudelíssimos olhos que maculam
Nossas almas qual lanças aceradas?
Ou mortos como lâmpadas apagadas
Ciosos dos miasmas que o pululam????
Mal doze anos eu fizera, e tu já vinhas,
Em meus sonhos, tão nua e sedutora,
Não como uma sucubo tentadora,
Mas qual santa desnuda, assim tu vinhas.
Qual uma virgem indo a missa, assim tu vinhas
E eras minha , só minha, e tão somente,
Despertavas em mim o amor latente,
Que abrasava-me a alma, ......e assim tu vinhas.
Nas vezes em que por anos te ausentavas,
Eu sempre te lembrava.... e até sorria,
Do contato inocente que ocorria
Entre nós quando em sonhos me tentavas.
E pensando nas vezes em que voltastes,
E silente minha alma seduzistes,
Eu maldizia as vezes em que partistes
E num vazio imenso me deixastes.
Quiçá quando abatido pelos anos,
Visitar-me eu meus sonhos tu vieres,
E mostrar-me teu rosto tu quiseres,
Possa eu ver ser mais um dos teus enganos.
Espero que talvez mesmo tentado,
Pela ânsia de décadas sem tê-lo,
Resista a tentação de querer vê-lo
Pois cedendo serei o derrotado.
Talvez tua face, ossos descarnados,
E sem lábios, expostos, dentes me sorriam,
E nas órbitas onde olhos haveriam,
Hajam apenas buracos escancarados.
......E seja então tua linda cabeleira
loira, que em delírios eu osculava,
e em meus pensares lindo rosto ornava,
A moldura a envolver tua caveira.
.......Serás talvez a visão derradeira,
E num sonho, voraz, virás buscar-me,
Então por fim de amor irei fartar-me
Pois que sonhei amar-te a vida inteira.
Talvez tu sejas a MEGERA, a CEIFADEIRA,
Mesmo assim não fugirei ao abraçar-te,
Como privar minha alma de amar-te
Se tu amaste minha alma a vida inteira??
Mestre Egidio
Mestre Egidio