A fogueira das minhas mãos cumpre a sina...
Deitam-se os corpos, envolvem-se, nudez da minha fantasia, fluidez de movimentos, transpiram, mãos devaneias completam o cenário, palavra erótica desvenda iluminando a sala de teatro, poeta observando, descansa...
Um pequeno coro faz vibrar as cortinas acetinadas, o circo da vida, trompetas anunciam a chegada de um senhor, cavaleiro, o poeta...
O poeta observa contido, dá asas à caneta, as mãos incendeiam as páginas, o cenário transformado, agora...
Levanta-se, braços agitados no ar, gritando clemência! Para onde foram todos? Que palavras anunciam esta cortina de vento que namoro, condenando ao sufrágio e à perdição todas as palavras?...
A cadeira sombria, num profundo menos iluminado, agora... Há uma alma que dança despindo os cortinados, os corpos insaciados rebolam a passerelle do mundo, ilusão fictícia, entorna palavras em pedaços de papel.
Às voltas, os passos, silêncio, das mãos queimadas, procura a mente, palavras! que palavras?
O poeta revolve o cenário, paisagem de anjos, o céu verga-se, contemplativo e sereno, murmúrio do vento revira as páginas deste livro.
Resta moldura, pecado e incesto, meu teatro, minha vida... Que desejo de fluir no corpo, penetrar nos olhos e partir...
O poeta... Observa as cortinas que sangram agora, palavras fortes gritam-se nos corredores, os anjos percorrem os salões desencorajados, as ninfas, corpos nus de feitiço, navegam o mar silencioso que páginas de papel reprimiram.
E o poeta... O poeta sonha! O poeta cria!..
E queria tanto acordar um dia, no cenário que chora por falta de magia.
Medo de voar, medo de sentir, medo de me calar...
São as mãos que devoram cumprimentando as majestosas páginas de papel onde se encerram tantas personagens.
O poeta... O poeta desvenda a solidão que como veu os corpos, bebe do liquido das chuvas, diz aos anjos que não... Que nada se destina ao céu mas sim à incerteza, ao real e ao sobrenatural que representa o cenário desta mesa.
O poeta... despe-se, entrega-se, comunga conflituoso com as divas mistificadas, que páginas ardendo de papel glorificam.
Fica o palco da sua imaginação, eternamente vontades da alma, cenário e frustração.
Eternamente, fica...
O poeta.
Paulo Themudo