Prosas Poéticas : 

“ Depois das lágrimas… Que Bebi “

 
O chamamento, a queda solitária, bebo à saúde dos deuses, penetra-me as veias como sangue perdido, muralhas escaldantes enfeitiçadas de sol, são o meu corpo...

Transpira, respira fúnebre, visão das ruas, o copo da alma dá-me de beber sem caminho.

Rosto, decência, farto de ser mendigo, acordo não dormindo, tomar dos olhos senis um trago de vício, sou velho! Tenho poemas e lemas de criança infantis! Sou grito que respira a tua sede de sonhos, sou ser... Humano descobrindo, abrem-se cortinas, cego no passeio descalço, correm agarrando estrelas, os meus olhos...

Vivo a sombra das miragens, oásis planetário da noite embriaga-me, estas gentes que passam despem-me os jornais que em noite irrequieta enfeitam corpo de papel, palavra sem sabor, nas mãos dos Deuses, Clamo, Grito alto! O grito aflitivo e sufocante da sede desta poesia furtando.

Ficam sombras, oferenda, coração humano, de gente humana... Gigante! Do tamanho do grito! Desespero, não ser mais gente.

Agora o sabor é insípido, da cor das lágrimas transparentes, decorando vagas de mar incandescentes que são os olhos cegos balançando nos braços efervescentes, do sol...

Estou velho! Ouçam! Estou velho! Tenho medos! Tenho sed... Sim, como de um deserto se tratasse, tenho tanta sede!

Minúsculo raio de chuva namora a singela nuvem que passa desamparada despindo os meus olhos.
O vidro opaco, projecta imagens, vivências em mesa cheia, do líquido, vertem as mãos transpiradas a última réstia de grito.

Perdoem-me... Perdoem-me os Deuses se não me contive. Mas quis... Quis encharcar a alma com sonhos embriagados de pesadelos, quis ser louco, desenfreado mastigar as correntes do vento, namorar o ar refrescante, nadar a vaga de mar, ilusão...

Solidão a idade dos tempos me permite, dizer assim, que sim... Que nasço no dia em que morri. Cheio de sede! Cheio de medo! Cheio de frio!
O pedaço de Jornal noticia-me, a necrologia, acredito agora, sim, seriamente que bebi em demasia da poesia dos sonhos, para deixar de estar, aqui...

Paulo Themudo


 
Autor
Paulo Themudo
 
Texto
Data
Leituras
854
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
6 pontos
6
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Luis F
Publicado: 17/06/2008 12:27  Atualizado: 17/06/2008 12:27
Colaborador
Usuário desde: 15/08/2007
Localidade: Alcochete
Mensagens: 1184
 Re: “ Depois das lágrimas… Que Bebi “
São prosas poéticas como esta, que me faz gostar cada vez mais dos teus textos.

Os meus parabéns Paulo

Com amizade
Luis


Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 17/06/2008 22:00  Atualizado: 17/06/2008 22:00
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: “ Depois das lágrimas… Que Bebi “
"Que nasço no dia em que morri."

Um texto cheio de intensidade, que adorei ler.

Beijinhos


Enviado por Tópico
Fátima Rodrigues
Publicado: 17/06/2008 22:08  Atualizado: 17/06/2008 22:08
Da casa!
Usuário desde: 03/07/2007
Localidade: Setúbal - Portugal
Mensagens: 464
 Re: “ Depois das lágrimas… Que Bebi “
Dá vontade de levantar e ...aplaudir.

Belo!

Abraço