falar de silêncios
em silêncio
no mutismo olímpico dum teclado,
desta eterna busca de partilhar o verbo
e o desassossego da alma…
partilhar
o tempo, meu amigo,
num rendilhado polissémico-
semânticas de recorte fino, aglutinado -,
mesclas de crivos e ajoures, pontos antigos,
com que se bordaram lenços dos namorados
[e ponto cadeia, ponto grilhão, pé-de-flor…]
na flor da rosa, e no seu cravo.
ritualizar
ritmos, toques mágicos de dedos
no tempo indolente
de desfolhar
registos guardados em memória:
- tempo sem tempo
que se enquista
em nós
e nos habita por dentro e recidiva,
uma e outra vez, endémico, maior…
dedilhar as letras
consoantes, vogais breves, abertas ou nasais,
como quem dedilha um alaúde em aluída febre
no corpo
inaugurado duma mulher
amante
em fogo. em chama …
e lhe oferece por entre os dedos a beber
a água cristalina da sua própria fonte:
Minerva a fonte e a fome de se saber, poema.
e, nesta entrega,
nesta total plenitude, encontrar a essência,
a natureza paladina, a primeva seiva,
com o sangue a borbulhar a pele da alma
e dela comungar a hóstia sacra da palavra
ao palmilhar
sem medo
soleiras e portas do Caminho de Santiago.
sucumbir plena na ternura trémula dum afago.
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