padre Inácio gostava de figos ao pequeno almoço e de ler as notícias mal tirava os pés da cama. gostava de ver a praça da alegria que passava nas manhãs da rtp e de ouvir a renascença onde por volta das cinco da tarde transmitiam o primeiro terço. padre inácio calçava sapatilhas da nike que mandava vir pelo catálogo da la redoute e ia ele próprio aos correios levantar a encomenda com o peito cheio de ar e o nariz empinado, ele sabia que só uma determinada classe social conseguia fazer encomendas da la redoute sem se enganar nos tamanhos e ele pertencia a essa pequena classe.
padre inácio celebrava a missa todos os dias por volta das seis horas da tarde ajudado pelo seu sacristão e amigo, Bonifácio. Bonifácio era um homem rude do campo, as unhas eram de um amarelo encardido pelo pó da terra, o cabelo tão emaranhado que já se lhe não conhecia nenhum risco, nem ao meio nem ao lado. o padre Inácio e o sacristão Bonifácio iam sempre jantar depois da missa à taberna do António, António gostava de os ter por lá a comer sempre o caldo que sobrava do almoço.
padre inácio sempre quisera ser padre, houve um dia em que pensou que esse não fosse talvez o destino que lhe estava confinado, foi quando conheceu Maria Pacata, a nova catequista do terceiro ano, moça ainda nova com umas pernas altas e torneadas que se mostravam delicadas por debaixo das saias. a paixoneta passou-lhe quando ela e o seu namorado lhe pediram para os casar.
padre inácio era um homem só, de amor ao divino, agarrado ao seu terço de contas castanhas que um missionário seu amigo lhe mandara de África algum tempo antes de se tornar padre.
. façam de conta que eu não estive cá .