Um amigo me emprestou o livro “Política e Paixão”, de Affonso R. de Sant’anna. Casualmente, encontrei nele um trecho que chamou minha atenção. Fala sobre uma imagem de Marshall Mluhan, de que uma lagarta, olhando para uma borboleta voando, virou e disse: “Vocês nunca me transformarão numa coisa daquelas.”
Interessante porque, a borboleta é contraditória. Ao mesmo tempo em que ela é o fim da vida da lagarta, é o início de um novo ciclo.
Transformou-se.
O destino da lagarta é virar borboleta, é evoluir. Esta metamorfose é bem dolorosa para a borboleta, não pelo processo em si, uma vez que a lagarta “morre” para si mesma, vivendo enclausurada em seu casulo, mas sim na hora em que o mesmo se abre.
O esforço é grande para rasgá-lo, e mais tarde, outro esforço é exigido, quando as asas precisam ser estendidas para que sequem totalmente.
Transforma-se então, é se esforçar.
Metaforicamente, é morrer para aquilo que já não serve mais e partir para um novo patamar.
Haverá perda, mas em contra-partida, ganhos surgirão. É inevitável, é o curso da vida. O rio flui. A vida de uma lagarta não tem muita graça, pois, pesada, só rasteja, comendo folhas. Jaz ali, tão limitada...
Depois da metamorfose, ela não mais existe naquela forma. Em seu lugar, surge a leve e colorida borboleta, que não conhece limitações. Voa rápido por entre as flores em um jardim, ávida pelo néctar, energizada pelos raios de sol. Irradia vida!
Evoluir como pessoa requer coragem, mas não me refiro a de transformar-se, porque isso é totalmente natural, afinal vivemos abrindo e fechando ciclos em nossa vida. Falo da coragem de olhar para dentro de si e reconhecer: “Sou lagarta.”
A partir daí, o casulo já não é visto como uma prisão ou um túmulo, mas como um portal, que dá passagem para um mundo novo, visto de cima.
Nunca mais as coisas serão as mesmas.
Uma vez borboleta, lagarta nunca mais.
Cláudia Banegas