Tenho pensado sobre a vida, nesta tela rosa em que eu pintei e vejo que a fiz rosa demais.
Pintei jardins, bordados, rendas, castelos,damas,cavalheiros, música de fundo, gestos, carinhos, delicadeza, sutileza, paixão, volúpia, poesias, prosas, versos...lareira..vinhos...
Enfim tudo que uma mulher romântica como eu, sente... deseja... sonha...
Sendo assim, permiti que a chuva fizesse uma breve mudança. Molhasse, manchasse a pintura esmaecendo o rosa .
Molhasse meu corpo retirando um pouco desse romantismo inato, entranhado em minha pele.
O que talvez, pudesse deixar que a razão inquieta, viesse à tona...
Oportunista como sempre a razão, aproveitou-se da chuva e ergueu-se como alguém que quase está se afogando.
Ela veio ofegante, cambaleando fingindo um “quase sem forças”
Mas trazia nos lábios, um meio sorriso de vitória, que eu entendia muito bem... E assim dominou toda situação.
Apoderou-se da tela, ainda manchada e com um olhar de altivez, pegou a paleta e o pincel.
Sem técnica, sem inspiração, sem emoção , ela tentou... tentou em vão...
O pincel dançava em seus dedos racionais. As cores não se misturavam. A tela dela se esquivava
Então com toda paciência de uma romântica, que mesmo com a chuva despertando a razão,
sutilmente, peguei em suas mãos e deixei que através dos meus poros, a sensibilidade, a inspiração, a emoção, a paixão, o amor, respirassem, penetrando em suas mãos frias.
E a fui guiando, a cada pincelada e assim foi ela aprendendo... com cautela,as vezes sendo guiada. as vezes guiando...
Desta parceria foi surgindo uma nova pintura
Sobre uma outra vida
Uma vida com um pouco mais de equilíbrio
Onde a razão e a sensibilidade
Andam de mãos dadas
Ninguém perde, ninguém ganha
Apenas se aprende
A domar a emoção
Ouvir a razão
Mas sem nunca, nunca...
Perder o romantismo...