Mote
Neste Mundo se aninham
Vertentes mui' diversas
Vidas muito dispersas
Poemas que desalinham
Estórias minhas caminham
Rendilhadas de ilusão
Cheias d'alma e coração
Em poesia tão vulgar!
Espezinhado o meu pensar
Faz rabiscos de emoção.
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I
Tantas coisas más eu vejo
Sulcos de dor nos jornais
Lágrimas d'anjos e ais
Desesperado desejo:
De apenas ter um beijo
E o regaço que não tinham
Quando á noitinha definham
Tantos sonhos sem luar
Tantos males a pairar,
Neste Mundo se aninham...
II
Há um céu só de engodos
Aquarelas só de dor,
Emoldurando o desamor
Na paleta apenas lodos...
Num olhar que era de todos
Traço em linhas reversas
Vielas controversas
-Tão dificil entender!
Mãos q'não deviam nascer;
-Vertentes mui'diversas!
III
Uns acalentam sonhos
Ou vivem sob escombros
Outros, encolhem ombros,
Numa indiferença total
Por impotência casual
Desconversam, conversas;
Vivem a vida ás avessas,
Num egoismo comungado;
Ironia, lado a lado...
-Vidas muito dispersas!
IV
Vislumbro em meu desejo
Ter de Deus Suas Artes
Vivenciá-las por partes
Ofuscar o que vejo,
Afastar seres sem pejo
Ouvir vozes que caminham
Estros, que se avizinham,
Na tinta do meu papel
Alinhar em carrocel
Poemas que desalinham.
V
Ardiloso meu pensar
Compraz nas conjucturas
Edifica algumas juras
Esvaídas pelo tempo
E a aurora num lamento
Chorou lágrimas que tinha
E a poesia que adivinha
Tem rios de veleidades
Meus rabiscos são verdades
Estórias minhas caminham.
VI
Creio num belo porvir
Futuro feito de amor
Sem ingratidão, sem dor;
Onde a paz há-de fluir
Num qualquer ano a seguir...
Presume a minha visão;
E as penas de mão em mão
Em versos de açucenas
Serão só cantilenas
Rendilhadas de ilusão.
VII
Ah!O poeta é um zé ninguém
Quando deveras sente
A dor de toda a gente...
Escreve o que lhe convém
-Até diz que tem vintém!
Mesmo quando diz que não...
Verga a esquina em contra-mão
Tenho ilusões de rotina,
sonho cantigas de ardina
Cheias d'alma e coração.
VIII
Em minha nostalgia
Vou castelos inventar
Semelhante ao meu olhar
Que diverge em simetria
Ora, transmite alegria
Ora, pára pra pensar;
Continua um divagar...
D'uma ilusão que tinha...
Tracejando uma linha
Em poesia tão vulgar!
IX
Renascida no hoje
Actualidade intemporal
Ao ler notícia de jornal
Uma revolta que urge
De um desejo que surge
Mas nada vai adiantar
Impotente vou ficar
Nesta vida sem entender
Esperar e ver para crer...
-Espezinhado o meu pensar;
X
Coberto de revolta...
abate o que o rodeia
E envolva á cruz alheia.
O entulho anda á solta
Burros e sua escolta
Ainda mandam,e então?
Já o Aleixo tinha razão!
-meu pensar persistente,
Afoito e pertinente,
Faz rabiscos de emoção.
Cecília Rodrigues
Maio-2008