Excluídas as exigências convencionais,
elididas as diferenças sociais,
suprimidas as indiferenças raciais
e vencidas as filosofias dos intelectuais,
os humanos somos animais cotidianamente
carentes apenas de contato, de olfato, de tato,
e não de sapatos, aparatos e contratos;
carentes de calor, de amor, de despudor,
e não de avião, promoção e título de doutor;
carentes de carícia, de malícia, de preguiça,
e não de influência, fluência e contas na Suiça;
carentes de paixão, de emoção, de tentação,
e não de guerra, terras e grades de proteção;
carentes de relacionamento, de cumprimento, de sentimento,
e não de isolamento, armamento e muros de confinamento,
carentes de beijo, de desejo, de gestos benfasejos,
e não de guerrilha, quadrilha e ilhas de desterro;
carentes de paz, de cantigas, de poesia,
e não de rolex, duplex, veleiros carcomidos pela maresia;
e porque ninguém é de ferro nem de água
nós somos carecedores desmedidos
de dengo, chamego, cafuné e sexo;
mas para tal, é urgente que se faça uma claúsula
que declare a permissividade de viver despido;
chega de relógios, gravata, anágua, saia, terno.
Cid Rodrigues Rubelita
Cid Rodrigues Rubelita