Poemas : 

ELEGIA PARA MINHA MÃE

 
vejo-te assim quase morta

no quarto

a manhã cresce adúltera

tens ainda dores do parto

do filho que não fui eu

a manhã cresce na minha mentira

não tenho mais o riso na boca

tenho o beijo breve

pra dizer-te adeus

tenho as mãos cansadas

o dever cumprido

tenho as minhas mortes

estas são tão minhas

tenhos as minhas luas

inventadas em poemas

tenho um caixão de defunto

tenho festivais que ganhei

tenho nada

só fui poeta

a vida inteira

este copo na mão

este cigarro

esta barba comprida

mais nada

(ah, teu filho ainda levo comigo...teu filho)

________________________


Júlio Saraiva

 
Autor
Julio Saraiva
 
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 06/06/2008 14:17  Atualizado: 06/06/2008 14:17
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8112
 Re: ELEGIA PARA MINHA MÃE
Não é fácil falar da mãe. Eu nunca consegui. Tudo me parece sempre tão pouco, tão pequeno e tão fútil... Para ela eu quero uma obra de arte, um poema diamante, uma palavra inventada num cometa, sei lá...Um dia! Talvez um como esse, ou após e tarde demais...


Enviado por Tópico
gil de olive
Publicado: 06/06/2008 14:26  Atualizado: 06/06/2008 14:26
Colaborador
Usuário desde: 03/11/2007
Localidade: Campos do Jordão SP BR
Mensagens: 4838
 Re: ELEGIA PARA MINHA MÃE
Passando por aqui para te deixar um abraço ,ler seu texto, e desejar um lindo dia!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/06/2008 15:18  Atualizado: 06/06/2008 15:18
 Re: ELEGIA PARA MINHA MÃE
Júlio,
Sem ser piegas, apenas o sentir à flor da pele, os fatos desenhados na retina e o poema espalhado no papel.Parabéns!
Bjins, Betha.