NO DESERTO DO CORAÇÃO
Maria José Limeira
As ruas passam
apressadas
pelas janelas
fechadas.
Cheias de pernas,
pés,
braços,
mãos abanando,
gestos.
O mundo
é imenso
ventre abaulado,
em gestação.
E quando os humanos
se distanciam
estrangulados no tempo,
são as árvores
que embalam
meus pensamentos,
desde o tenro caniço
ao enorme baobá.
Também estes aram
seus sentimentos
altaneiros
e orgulhosos.
Em seguida,
como cena dramática
de filme antigo,
em reconstituição,
no escuro laboratório,
imersos na matéria
química
que lhes dá vida,
todos morrem.
Fico então a sós.
Presa no deserto
- ora morno,
às vezes quente,
talvez frio,
ou
para sempre gelado -
que se chama coração.