FOME DE ALMAS SUICIDAS
O cão que eu vi,
Gostava de comer;
Não carne vermelha,
Mas índoles de fibra:
Sequazes de lineares quimeras
E líricos cactos nascidos em tempo do vôo da primavera.
O cão era robusto, alto e maduro.
O cão trazia em sua expressão
A marca firme, intimidadora, viril, atroz e segura
Da argila que emanta a tez do verdugo, da besta-fera em pessoa.
O cão quebrentou cruel, morosa, progressiva e definitivamente
A rocha da certeza e da altivez que se cimentara
Em um girassol sacramente emantado.
O cão, trajado de apócrito sacro manto,
Carcomeu a rosa que vicejara na estufa do sertão flagelado.
O cão, com sua voz maninha,
Transmudou o verdejante jardim fértil
No verão da savana do Senengueti
E na perene chuva de expansivos paraísos de cálido
Vazio frio de desertos nefandos e inclementes.
O cão: o cão era dantesca imagem
O cão: o cão era sicário iconoclasta
De guerreiras e bonômias divindades
O cão: o cão era pensamentos eternos de maldades etéreas
O cão assassinara um idealista e altivo homem a seu deus
Temente,
Deixando em seu lugar um sombrio cérebro
Aterrado e cadavérico somente.
jessé barbosa de oliveira