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Ponóchio

 
Olho a minha volta e queria sumir
Desistir de tudo e de todos, sucumbir.
Agarro-me aos detalhes, vãos
Fios ralos que me prendem ao mundo
Marionete, sem predileção.

Quem estás à corda sobre minha cabeça
Quem têm as amarras do meu coração
Quem és, que puxa, torce e enrola
O fio que dá o nó desta angústia solidão?

Tropico, quebro, ajoelho
Olho pasmo o espelho que mostra a alma
Que apaga, minuto a minuto, a vontade do fedelho.

Agora jogado cá estou.
Sem eira nem beira, atordoado.
Procuro, no frio, angustiado
A mão firme do caminho, agora, pardo.

Sei que não estás mais ai
Que aos poucos hei de me puir
mas, fagulha, ainda pouco a esperança
que este pinóquio, um dia, vire de novo
Criança.


Oh ego Laevus!

Improvisado, na hora. Enfim...
 
Autor
Raul de Oliveira
 
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