Adeus Lisboa de Fados turvos, desculpa esta minha ausência, Ai! calçada portuguesa que desenhas um chão vazio de lágrimas, relembra os meus passos desde criança pois agora serão escassos, relembra-os apenas. Como eu irei fazer dessa Lisboa erguida por sete colinas… sete como o dia em que nasci. Como os 7 pecados que nesta Lisboa habitam, secretamente entre nós, seres humanos. O meu pecado talvez tenha sido a ganância, a minha glória foi o amor mas esse amar é tão forte e intenso que também iria sobreviver ai sem necessidade de me ausentar. O meu pecado foi a ganância. Perdoa-me.
Ai Tejo que saudades irei ter dos mil versos escritos a tua beira, perante um sol que já se extinguia e as minhas palavras como um fado triste continuavam até que a chama desse nosso sol se extinguisse. Depois guardava o martelo e a caneta em que esculpia em ti os meus versos observando a tua cor, a cor do céu negro que em ti se abatia e virava costas apenas quando já não mais distinguia um do outro. Perdoa-me.
Ai poeta sentado na brasileira tão Portuguesa, observas tudo em olhares de poemas de solidão. Saudades de outra Lisboa, em vez dessa que já não reconhece as glórias e os feitos tantas vezes declamados, nesses teus grandiosos poemas cada vez menos lidos. Ali ficas parado, decorando uma rua, em sinal de corpo presente. Para um estrangeiro ver mas viverás para sempre quando ao som de uma noite vazia em terras estrangeiras eu declamar os teus poemas com a força da saudade dessa minha terra, ai deixaras de ser uma estátua e passarás a viver. É tão fácil esquecer o que vemos todos os dias, é tão difícil não recordar quando estamos longe. Será esse o meu poema para ti, cidade da minha vida. Um poema de uma só frase… uma frase tão Portuguesa – SAUDADE.
Em tantos teus cantos fui feliz, em outros tantos fui triste. Recordo-te em cada canto de Barcelona não julgues como um filho que abandonou, mas sim como aquele que sempre amou, cada esconderijo, cada espaço ou rua. Recordo o verde que rodeava um jovem ainda louco, bancos de cimento, folhas caídas. Recordo o lago e os patos, as pessoas estendidas na relva, naquela relva brilhante. Recordo os labirintos que naquele espaço existiam, recordo-me de um rapaz de boné que ali escrevia os seus primeiros versos, sem saber que seriam os primeiros de muitos, recordo também um jovem que há 6 anos se ajoelhou e pediu em namoro aquela que agora pediu em casamento. Recordo as lágrimas que derramava num canto encostado numa rocha sem que ninguém escutasse, lá escrevi as primeiras dores, lá colhi os primeiros poemas.
Dizem que todas as cidades tem um canto especial um espaço só nosso. Existira uma Gulbenkian em Barcelona?
Ai saudades da despedida que ainda continua pelas ruas de Barcelona, e irá sempre continuar. Perdoa-me.
Poetryflow
André Henry Gris