BALÉ DE VOZES
A
O celeste breu marinho deita exultante sobre a alameda onde meus pais têm residência:
Porque, desta feita, seu velho sequaz, o silêncio, não o acompanha;
E sim um indomável coral de vozes mancebas, levianas,
Presidiárias da social transparência
Que jazem nos jardins de átomos da esperança,
Onde se cultiva a aurora da manhã humana.
B
Enquanto em casa em meio a um turba de exortações semitaciturnas,
Eu, solitarimente, contra elas, lanço
Apenas o meu intangível assombro:
Pois me deixo extasiar pelos pégasus verbais
Que irrompem de suas jocosas bocas para subjugar toda a rua:
Geralmente quieta, lúgubre, soturna, moribunda!
C
No entanto, apesar de residir vivacidade nos meteóricos vocábulos,
É pena que as verdejantes centelhas arredias não sejam,
Em verdade, a prática personificação do mitológico cavalo alado:
Que é mais um integrante da miríade de filhos da enlevante Grécia Antiga;
Embora fulgure mesmo como um animoso paladino d’auréola da Justiça;
Enquanto as verdejantes centelhas arredias
Não passam de uma temerária e fácil presa da inebriante auréola da harpia:
Trazendo latente no âmago de seu seio
O desejo de saciar a fome por crepúsculos prematuros
Como acontece esporadicamente quando o eclipse solar
Consome efêmero a energia que nos vivifica em radioso dia pleno.
D
Entretanto, após um bom tempo,
Em casa eu contemplo
Que sorrateiramente
Abraça o breu o silêncio.
E
Afinal eu e ele desconsoladamente suspiramos:
Ele, por voltar a compartilhar com o sepulcro
Do som, seu destino;
E a minha pessoa, por ver-me rememorar a lembrança
De que está dissolvido no estuário
Das sensaborias, o meu oceano de idílios:
Do querer que haja o irmanar de híbridos temperamentos e afãs de justiceiro.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA