Prosas Poéticas : 

“Psico – Novela”

 
Quem sou eu?

Novela escura, preto no branco, a sépia do tempo emoldurando fragmentos vivos de poesia.
Eu sei, respiro lá no alto, um lugar, a criatividade do sonho transforma o pesadelo, algas de mar são os meus cabelos, as rochas um coração que não se move, o sal, as lágrimas que despi nas primeiras vagas de um lugar sem luz.
Praia deserta, lugar dos desabafos, o mais minúsculo grão de areia é palavra, furtada em silêncio comedido em noite escura de luar adormecido.

Quem sou eu?

Um predador de sonhos, um agressor dos sonos, pintando telas desnorteantes, agitando os corpos que aqui se levantam, recolhendo para mim o esplendor, inocência ou permanência de uma qualquer alma.
O saco cheio, furtei sem dignidade, o mais minúsculo sentimento transformado, ódio, palavra certa para este ser da escuridão, condenado.
Há um altar, um Deus que desconheço fazendo frente, coro de vozes respirando, pintura da vida foi meu momento, os braços gigantes correm velozmente, eu segurando a taça religiosa, este sonho é pesadelo que me afasta o tempo. Um tempo onde vivi, amei e odiei como toda a gente, pintei sem medos o que vi, escuridão da cela onde alma castigada se encerra, a pintura arde insaciada nas vagas insultuosas do mar que namorava.
Sem sentidos, rascunhos são os dedos laminados, como espadas rasgando páginas, vorazes as mãos exaltam em si o prodígio das prometidas lembranças… Lembrança de ser alguém!

Quem sou eu?

Um fogo que vibra, ódio insatisfeito minando o dia com palavras de heresia.
Santuário, demandam de um Deus maior menos cansaço, da vida que vivo, ficam…
Ficam paisagens chocantes, criança brincando no luar agarra o que resta da maresia, meus olhos salgados compõem versos e devolvem à vida, nova narrativa.
Paisagens, mergulham os meus sentidos, luz maravilhada, escuridão de outro dia, os passos inventam o caminho, mudanças, namoro o sol e a lua, embriago-me nas lágrimas impacientes, cegueira do mar eloquente, visto a moldura triste, asas voam maravilhadas, elevei-me a um ser superior, senti… Fui gente!
Sei lá o que é escrever, sei lá o que é viver, não vi telas para pintar, vi sonhos a desmantelar a paisagem destes olhos, que só queriam … Amar! Abraçar a novela da vida, viver sonhos, contornar a fantasia, dar cor ao mundo!
Deixem-me delirar, assim não deixarei este trono, no auge da minha espiritualidade asas zangadas levar-me-ão daqui para uma nova morada.
Fartei-me e derrotei-me, cegueira tapa-me o que resta do sabor do vento, as mãos descalças são permanência, deste ser que esteve sempre ausente.
Alma saboreia das vagas dos meus olhos, alimento de um Deus superior meu corpo dilacerado, nas mãos de qualquer gente sou fragmento, carência de afectos, os pés andarão sempre descalços, o vazio as rochas poderosas preencherão, enquanto eu… Enquanto eu for vivo as novelas reais da vida serão ilusão.

Quem sou eu? Quem sou eu?...

Vasto de segredos, traço a vermelho o rosto que me tornou pesadelo, misturo as cores, são palavras de desespero, a moldura preenchida é rasgo incompleto do que não percebo.
Poeta, pintor, voz psicológica sem cor, agarrado às correntes do mar nunca dantes navegado, meu pesadelo, não me lembrar de ser criança, ser homem, destinado ao que todos sabem, impedido de sonhos ou ilusões.
Corri os céus, voei o tempo, na cela da minha alma deixo palavras, para que me possam compreender o momento… Sou gente, sei, apenas poderei dizer que sou gente.

Quem sou eu?

A vaga do mar, a palavra que sangra, o alimento do pesadelo, sonho vão, sangue, alma, o que não se vende, eu… Sou o que se esqueceu de ser alguém.

Paulo Themudo

 
Autor
Paulo Themudo
 
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